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Baixar - Proppi - UFF

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Esta perspectiva está inserida também em uma linha de trabalhos que têm<br />

enfatizado a lógica e as rotinas próprias e particulares do “mundo judicial” enquanto<br />

burocracia estatal (Sarrabayrouse, 1998; Martínez, 2001, 2005, 2007; Tiscornia, 2006;<br />

Daich, 2010; Renoldi, 2008a; Bovino, 1998; Cárcova, 1998). Dessa perspectiva, tem se<br />

destacado o caráter objetivante e despersonalizado dos mecanismos de administração de<br />

justiça, dentre os quais predominam a expropriação do conflito por parte do Estado, a<br />

lógica do sigilo, a predominância da escrita e de uma linguagem formalizada, esotérica<br />

e especializada. Estas características enfatizam a distância do Judiciário da sociedade,<br />

como um “mundo” com espaços, tempos, personagens, idioma e regras particulares de<br />

uso específico dos atores especializados. Estas etnografias têm sido a base a partir da<br />

qual tenho refletido sobre o funcionamento do judiciário na Argentina e sobre a qual<br />

tenho começado o trabalho de campo para esta tese 2 .<br />

Nessa linha, o início de meu trabalho de campo esteve marcado por uma atenção<br />

específica para as possíveis dissonâncias entre o saber técnico dos agentes judiciais e as<br />

demandas, linguagem e expectativas das pessoas envolvidas nos conflitos. Também<br />

para aquelas práticas que privilegiassem a lógica escrita sobre a oralidade como forma<br />

de produção e transmissão do conhecimento. Percebi estas questões em várias situações<br />

etnográficas, em especial na observação de juicios orales. Contudo, nas reflexões<br />

posteriores ao trabalho de campo, entendi que as pesquisas mencionadas já<br />

consolidavam um campo de análise sobre aqueles aspectos do Judiciário, de forma<br />

consistente e ampla. Minha reflexão em tal caso poderia enfatizar alguns aspectos sobre<br />

outros, mas comecei a sentir que minha tese não aportaria uma visão muito inovadora se<br />

continuasse priorizando aqueles aspectos do funcionamento do Judiciário, sobre os<br />

quais os trabalhos citados tanto aportaram. Ao mesmo tempo, as reflexões posteriores<br />

sobre minha experiência no trabalho de campo trouxeram à tona outros aspectos, não<br />

imaginados e não percebidos através de minhas preocupações iniciais com o<br />

funcionamento de um direito, ou de uma justiça formalizada, esotérica e distante da<br />

sociedade. Foi priorizando aqueles outros aspectos que percebi que ‘forma’ e ‘fundo’<br />

podiam adotar diferentes posições e sentidos em situações etnográficas diversas.<br />

A dinâmica de administração de justiça que observava na UFI, bem como nos<br />

juicios orales, me fez relativizar o predomínio da ‘forma’ sobre o ‘fundo’ quanto<br />

2 Boa parte das discussões e reflexões têm se dado no âmbito dos encontros do Equipo de Antropologia<br />

Política e Jurídica da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires, do qual eu e parte<br />

das autoras citadas fazemos parte.<br />

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