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Baixar - Proppi - UFF

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Defensora: a zona da praça é um “aguantadero” 39 ?<br />

Talarico: sim, pois não há luz e aí as pessoas podem usar drogas.<br />

Defensora: quem? Quem são essas “pessoas”?<br />

Talarico: bom, há os bons vizinhos e os maus, há pessoas problemáticas.<br />

Defensora: é uma zona tranqüila ou conflituosa?<br />

Talarico: conflituosa, há 150 metros houve um homicídio.<br />

Defensora: antes do episódio do roubo de sua casa sabia que o bairro era<br />

conflituoso?<br />

Talarico: sim, mas até aquele momento ninguém tinha mexido comigo [não fez<br />

referência nesse momento ao roubo da casa 22 dias antes].<br />

Defensora: os familiares de Dario moram na zona?<br />

Talarico: sim, em 89 e 361.<br />

O advogado de Sánchez quis saber sobre um outro episódio, posterior ao “fato”<br />

julgado. Perguntou se tinham tentado queimar a casa dele. “Sim, disse Talarico, mas<br />

não conseguiram porque chegou a polícia e os bombeiros”. E mais adiante disse “se<br />

sentir ameaçado pelos familiares da vítima. Os menores me insultam e têm impunidade.<br />

Entendo que são eles os culpados pela tentativa de incêndio. Tive que ficar sessenta dias<br />

com custódia”. Durante todo seu depoimento, Talarico não mencionou o nome de<br />

Dario. Referia-se a ele como o “sujeito”, o “ladrão”, o “malandro” ou, em algumas<br />

ocasiões, como “esse lixo”. E assim transcorreu o primeiro dia do juicio sem que<br />

nenhuma testemunha mencionasse seu nome. Quando soube do caso perguntava-me<br />

como é que dois garotos que moram no mesmo bairro de quem vão assaltar, roubam um<br />

policial, com o eventual risco que isso pode implicar. “Não sabiam que era a casa<br />

dele?!”. Pensava em certa inexperiência dos garotos. Contudo, nesses trechos do<br />

depoimento de Talarico, evidenciava-se outra representação; um certo incômodo com a<br />

presença do morador policial, que, de fato, já tinha trabalhado na comisaría que<br />

policiava a área. As representações manifestadas por Talarico, por sua vez, além de uma<br />

relação hostil (“se sentir ameaçado”, “ser insultado”), também evidenciavam o desprezo<br />

deste para com os “sujeitos” da “zona” (“pessoas de mal viver”, “esse lixo”). Desprezo<br />

que se sentia tanto nas suas palavras, como naquelas que trazia à tona na boca de<br />

opiniões e comentários de “seus vizinhos”. A “zona”, diferentemente do “bairro”, tinha<br />

ruas de terras, era caracterizada como semi-escura, conflituosa, um “aguantadero”.<br />

39 O termo refere a um espaço, geralmente abandonado, onde supostos “delinqüentes” se escondem da<br />

polícia, ou onde se cometem infrações como uso ou venda de drogas. A categoria tem a ver com<br />

“agüentar”, esperar, escondido até a polícia ir embora.<br />

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