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Baixar - Proppi - UFF

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da sala para consultar Valeria sobre, por exemplo, se mostrar ou não a perícia da arma.<br />

Os advogados questionavam a tal ponto a forma de registro do depoimento por parte de<br />

Fred que achei que acabariam questionando a participação de Fred como responsável<br />

pelo processo. Ao final, quem assinava tudo era Valeria e a delegação não estava<br />

prevista legalmente.<br />

Mas eu estava errada. Nenhum questionamento deste tipo apareceu, nem neste<br />

caso nem em nenhum outro que não fosse trabalhado pelos promotores, “titulares da<br />

ação pública”, conforme o Código. Porque a questão não era que os responsáveis não<br />

fossem formados em direito, ou que nem fossem aqueles que assinavam formalmente as<br />

decisões. O ponto parecia ser, em tal caso, fazer uso das diferenças de experiência entre<br />

os agentes do sistema, dentro de uma organização e delegação de funções conhecida e<br />

aceita previamente. As insistências, provocações e exigências dos advogados eram,<br />

então, (mais) uma forma de construir a estratégia de defesa, aproveitando os modos<br />

rotineiros de trabalho nas UFIs e, especialmente, de produção dos depoimentos. Não<br />

era, de modo algum, o questionamento de uma delegação de funções aceita por todos.<br />

Nem os advogados esperavam encontrar os “titulares da ação pública” em todos<br />

os atos, nem também os funcionários das UFIs esperavam encontrar os titulares das<br />

defensorias, em todos os momentos do processo. A maioria das vezes em que se fazia<br />

necessária a “presença do defensor”, seja para um ato de reconhecimento de um<br />

“imputado” por parte de testemunhas, seja para um depoimento, quem acudia não era o<br />

defensor, mas um funcionário da defensoria. ‘Essa’ presença e não outra estava dentro<br />

das expectativas dos funcionários 145 . Parecia, inclusive, uma interação padronizada.<br />

E, curiosamente ou não, também não parecia ser um problema para testemunhas<br />

ou réus. Eles sabiam que deviam falar para quem estivesse diante deles. Pouco<br />

importava o cargo que ocupassem. Todos aqueles que os recebiam estavam diante de<br />

um computador, separados por uma mesa e perguntando informações. Quando Valeria<br />

tomava o depoimento de Lorenzo, o senhor que tinha disparado a escopeta contra o<br />

irmão de sua ex-namorada, ele insistia que queria “falar com o juiz, porque eu moro há<br />

duas quadras da casa do juiz; sou vizinho dele”. “Não, Lorenzo, o senhor mora há duas<br />

145 Isto não quer dizer que os titulares –defensores ou promotores- não estivessem nunca presentes, mas<br />

que apenas estavam nos casos que eles trabalhavam, conforme a distribuição de processos de cada<br />

unidade. Este ponto difere da minha etnografia na Justiça Federal, na cidade de Buenos Aires, onde a<br />

delegação nos funcionários de menor hierarquia por parte do “juiz de instrução”, responsável pela<br />

investigação dos processos, era muito maior (Eilbaum, 2008).<br />

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