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Baixar - Proppi - UFF

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“daquilo que chegava era culpada”; os inocentes eram exceções 163 . Por outro, porque a<br />

questão era ter uma estratégia sustentável pelo próprio “imputado”. Da avaliação sobre<br />

a pessoa do “imputado” surgia, então, boa parte das decisões sobre depor, ou não, além<br />

das posições ideológicas ou funcionais ocupadas.<br />

“Vão meter o pé na jaca”<br />

“Cada caso é particular. Muitas vezes você não pode fazê-los depor, porque vão<br />

meter o pé na jaca. Primeiro, porque nesse momento você tem apenas alguns elementos.<br />

E também porque muitos rapazes são absolutamente delirantes, saem com histórias que<br />

você os escuta e não sabe como fazê-los calar. Eu vou avaliando quais são os elementos,<br />

a histrionia do imputado quanto a como pode chegar a conduzir a situação e se,<br />

realmente, tem um álibi certo, avanço com isso. E, se não tem um álibi certo, mas o<br />

álibi que se inventa tem signos de credibilidade, bom, pode depor, se arrisca, sairá bem<br />

ou não, depois você verá. Mas há alguns casos em que estão tão exaltados quando<br />

chegam que você tem que dizer para não depor ‘porque o que você diz pode ser usado<br />

contra você’. Acho que a decisão vai por aí”, me explicava o Dr. Magistir, em uma<br />

conversa fluida no bar da esquina do seu escritório em uma localidade de um município<br />

do departamento de Los Pantanos.<br />

A “histrionia do imputado”, seu nível de “exaltação”, com esses ou outros<br />

termos, apareceram recorrentemente como um argumento para optar pela decisão de não<br />

depor. Tanto nas decisões de defensores particulares, quanto nas dos públicos.<br />

Fortemente, entre os defensores públicos, vinha da mão da descrição do perfil dos ‘seus’<br />

defendidos. Ao argumento clássico dos defensores públicos defenderem “pobres rapazes<br />

detidos quando tentavam roubar” 164 , “caídos do sistema”, somava-se a dificuldade de<br />

sustentar com estas pessoas um depoimento coerente. “Absolutamente delirantes” e<br />

“exaltados”, “em alguns casos é melhor que não deponham porque os rapazes não<br />

163 Perguntei para a defensora pública como agia nos processos em que o “imputado” era inocente, porque<br />

“imagino que há processos que não foram eles, né?”. Respondeu-me: “que não são não sei, que não se<br />

pode demonstrar que são sim. Mas o que sempre me diz este advogado amigo [Dr. Magistir] é que a<br />

polícia não se engana de ponta a ponta, se vão prender você por um homicídio é porque você passou por<br />

perto, porque você se manchou com o sangue ou porque alguma coisa a ver você tinha. Daí a que possam<br />

provar isso é outro caminho. Muitas vezes as pessoas saem absolvidas por erros da polícia, ou erros do<br />

procedimento ou do promotor, mas pessoas absolutamente aléias a um fato que fiquem presas é raro”.<br />

164 Em palavras de uma defensora pública: “nós temos a desvantagem de nossos defendidos serem<br />

pessoas muito limitadas, porque aqui não vem, não sei, não chega um processo de defraudações múltiplas,<br />

ou uma fraude bancária, não chegam. São pobres caras que os pescam porque tentaram roubar, para nós<br />

chega o bobo”.<br />

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