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Baixar - Proppi - UFF

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INTRODUÇÃO<br />

“É que aqui não passa nada”<br />

No dia 26 de setembro de 2007 voltei pela segunda vez ao prédio de Tribunales 1<br />

do departamento de Los Pantanos, no conurbano bonaerense. Era o combinado com<br />

Valeria na minha primeira entrevista com ela, pouco mais de dez dias antes. Valeria<br />

Mena era a promotora de uma Unidad Fiscal de Instrucción, chamada comumente de<br />

UFI. Tratava-se de uma das vinte e uma unidades onde, naquele departamento, se<br />

investigavam os crimes acontecidos na área por ele delimitada. Aquela data<br />

correspondia ao início do “turno”. O “turno” é um período de tempo de três dias, no<br />

qual cada UFI fica de plantão, durante 24 horas, para receber as denúncias de eventuais<br />

“crimes” de sua competência. O convite da promotora Valeria Mena resultou em um<br />

intenso trabalho de campo de mais de cinco meses, acompanhando os “turnos” e os dias<br />

posteriores a ele. Junto com o trabalho de campo naquela UFI, do departamento de Los<br />

Pantanos, fiz entrevistas com pessoas vinculadas à administração de justiça na<br />

província de Buenos Aires. Conversei com outros promotores, juízes, defensores<br />

púbicos, secretários e advogados. Li processos em andamento e concluídos e observei<br />

audiências de julgamento. As implicações de minha reflexão e interpretação sobre esse<br />

material deram origem a esta tese, embora o relato de boa parte dela esteja articulado,<br />

prioritariamente, a partir da minha etnografia ‘naquela’ UFI.<br />

A proposta de acompanhar um “turno” na UFI foi a resposta de Valeria a meu<br />

interesse em observar as atividades que desenvolviam naquele âmbito do sistema de<br />

justiça criminal do conurbano boanerense. Na época eu tinha manifestado um interesse<br />

específico nos casos de “homicídio”. Por isso, ela me disse que um “turno” seria a<br />

melhor opção para dar conta desse meu interesse, porque, durante o “turno”, eles, na<br />

UFI, eram informados de todos os “homicídios” e outras mortes que acontecessem no<br />

departamento. E eram, ademais, os únicos casos em que iam ao “local dos fatos”.<br />

Valeria também me disse que quando o “turno” abrangia o final de semana a quantidade<br />

de homicídios aumentava. Embora “homicídios” passionais e em ocasião de roubo<br />

houvesse o ano todo, Valeria também afirmava que outros “homicídios” aumentavam<br />

no verão, porque “os grupos de rapazes se juntam na rua a beber cerveja, bebem muito e<br />

1 Ao longo da tese, utilizo a fonte em formato itálico para os termos que mantenho no espanhol; as aspas<br />

para as categorias e falas nativas ou citações literais de autores e as aspas simples para enfatizar um termo<br />

ou categoria.<br />

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