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Baixar - Proppi - UFF

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interagiam situacionalmente com esses valores. Também no caso de Cacá, como em<br />

outros descritos brevemente nos Capítulos 4 e 5, os processos de investigação no âmbito<br />

da UFI mostraram a relevância outorgada a esses momentos de interação entre os<br />

funcionários e as pessoas envolvidas nos conflitos tratados. Seja nas conversas – oficiais<br />

ou extra-oficiais- na UFI, seja através de procedimentos que implicassem a “ida ao local<br />

dos fatos” - como a “reconstituição dos fatos” no caso Cacá e como o “allanamiento” na<br />

casa de Marisa e Carlos. Em ambos, os promotores destacaram essas situações como<br />

oportunidades para “ver, ouvir e conversar” com o entorno do “caso”. Uma atitude<br />

diferenciada do juiz presidente no juicio de Dario, preocupado com o fato da audiência<br />

não se afastar do “objeto do processo”. Para Sebastián e Valeria, pelo contrário, o que o<br />

“bairro” pudesse aportar para a investigação podia ser relevante e revelador dos casos<br />

investigados.<br />

Entendo que, pelo menos em parte, essa percepção vinculava-se com a natureza<br />

dos conflitos aqui tratados, produto de relações de proximidade social e territorial. Neste<br />

sentido, a investigação e o processamento judicial dos mesmos podem encontrar<br />

diferenças com processos que envolvem outro tipo de atores, como o Estado ou<br />

organismos da sociedade civil. A este respeito é interessante voltar a pensar sobre a<br />

análise de Pita sobre os casos de “violência policial” por ela trabalhados. Ela descreve e<br />

ressalta as formas de intervenção das relações de vizinhança na busca de informações<br />

úteis para a demanda “por justiça”, assim como a influência dessas relações, muitas<br />

vezes pré-existentes aos casos, nos fatos narrados. Ao mesmo tempo, Pita chama a<br />

atenção para o fato do processo judicial não integrar estas relações e estar definido por<br />

apenas duas versões, que denomina da “versão policial” e da “versão militante” 282 .<br />

Segundo ela, ambas, em estilos diferenciados, excluiriam do processo judicial “as<br />

histórias das pessoas de carne e osso”, “a vida social do bairro, as relações entre seus<br />

habitantes, que aparecem através dessas narrações, [e que] falam de laços de<br />

familiaridade e vizinhança, de amizade e de inimizade, de proximidades e distâncias,<br />

que fazem as formas de viver e que podem ser pensadas como um campo configurado<br />

por redes de sociabilidade (...)” (2006:71).<br />

282 Pita propõe que a “versão policial” comportaria uma “linguagem formulária, baseado em clichês” que<br />

apresenta os acontecimentos em série, pudendo ser identificada como “a linguagem oficial e burocrática<br />

própria de uma instituição estatal. “Contra ela – diz Pita- é construída a versão militante (…), que<br />

apresenta um estilo retórico expressivo, icônico e fortemente figurativo. Propondo uma chave belicosa e<br />

denunciante, distante da linguagem da burocracia estatal, mas que também apela a clichês, sentenças e<br />

afirmações” (2006:47-48).<br />

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