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Baixar - Proppi - UFF

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CAPÍTULO 4<br />

O “turno”<br />

Quando Valeria me informou que o próximo “turno” começava no dia 26 de<br />

setembro, me disse para chegar por volta das dez horas da manhã. Segundo ela, no<br />

primeiro dia, “os presos chegam só nessa hora, porque antes vão à defensoria e tudo<br />

demora”. Conhecendo a dinâmica do “turno”, fui entendendo o significado dessa<br />

indicação.<br />

No departamento de Los Pantanos, o “turno” de<br />

cada UFI era de três dias, começando um dia à<br />

meia-noite e finalizando 72 horas depois no<br />

mesmo horário. Em outros departamentos, havia<br />

“turnos” de 24 horas, ou de 48 horas, ou mesmo<br />

de 15 dias. Quanto mais prolongada era a duração<br />

do “turno”, maior era o período de intervalo entre um “turno” e o outro. Em Los<br />

Pantanos, cada UFI estava de “turno” ou “entrava em turno”, como eles diziam, cada<br />

40 dias. Por sua vez, as defensorias cumpriam “turnos” de uma semana. Também o juiz<br />

de garantias tinha um regime de “turno”, de uma semana a cada seis meses,<br />

aproximadamente. Essa organização fazia com que a UFI estivesse “de turno” com<br />

diferentes defensorias e juízes de garantias. Esquema que diferia das fiscalías e<br />

defensorias de juicio que sempre intervinham com o mesmo Tribunal Oral. Nos<br />

“turnos” da UFI, saber qual era a defensoria e o juiz de “turno” era fundamental para<br />

planejar o trabalho. Conhecendo essas informações, eles tinham uma noção de quanto<br />

demoraria o defensor em enviar o “imputado” para a UFI e quais seriam as prováveis<br />

estratégias de defesa. Também servia para prever o tom e o tipo de pedidos realizados<br />

ao “juiz de garantias”, como expliquei no Capítulo 2.<br />

Assim que cheguei, cumprimentei Valeria e esta me apresentou Bruno –“o outro<br />

promotor”. Estavam conversando na sala deste último. Na verdade, Valeria reclamava<br />

estar cheia de sono. “Muitas ligações?”, perguntou Bruno. “Não, é que meu filho estava<br />

com febre”. Olhou para mim e disse: “isto aqui vem muito tranqüilo”. Dizia isso porque<br />

era ela quem tinha ficado com o telefone celular da UFI durante a noite.<br />

O telefone era um objeto essencial do “turno”, especialmente os telefones<br />

celulares dos promotores. Desde o início até o fim, ou seja, desde as zero horas do<br />

primeiro dia até as zero horas do terceiro, esses telefones deviam estar disponíveis para<br />

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