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Baixar - Proppi - UFF

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Aquela mediadora se valia desse recurso para mostrar a seus<br />

alunos a possibilidade de um mesmo cenário – o conflito que<br />

levava as pessoas a uma mediação- poder ser olhado,<br />

visualizado, interpretado ou sentido de formas diferentes, até<br />

opostas. Não posso negar que tal afirmação não fosse muito<br />

familiar para minha formação em Antropologia. O reconhecimento da existência de<br />

diferentes pontos de vista sobre a realidade social é um dos pilares da perspectiva<br />

antropológica e da prática etnográfica. Mas, acontece que esta mediadora, antes de sê-lo<br />

tinha atuado como advogada, primeiramente em um escritório jurídico especializado em<br />

direito civil, e, posteriormente, por mais de vinte um anos, na Assessoria Legal de um<br />

banco do estado argentino, passando por todos os níveis hierárquicos. Assim, sua<br />

formação tinha tido um forte viés jurídico, onde a ‘forma’ sempre parecia prevalecer<br />

sobre o ‘fundo’ e onde não havia muito espaço para interpretações diferentes serem<br />

consideradas igualmente válidas.<br />

Desde 1992, ou seja, havia dezoito anos que ela era mediadora. Confrontada<br />

com conflitos de família (filiação, regime de visitas e alimentício, divórcios, conflitos<br />

por heranças familiares), de relações trabalhistas, comerciais, problemas entre vizinhos<br />

(a chamada “mediação comunitária”) e crimes considerados “menores” (ameaças, lesões<br />

leves, usurpações, injúrias), ela dizia que a maior mudança de um trabalho a outro – de<br />

advogada a mediadora- tinha sido passar de trabalhar com processos escritos a “ter as<br />

pessoas sentadas diante dela”, expondo seus conflitos. Agregava que, para ela, já<br />

bastava que alguém percebesse a possibilidade do outro ver as coisas de forma diferente<br />

– “aceitar que a outra parte enxergasse uma figura que ele mesmo não conseguia ver”-,<br />

mesmo sem concordar com ela. Entendia que seu papel como mediadora era,<br />

justamente, facilitar essa ‘outra’ percepção. Assim, tinha aprendido a lidar com essas<br />

diferenças. Nós duas, acostumadas, por motivos diferentes, a trabalhar com advogados e<br />

pessoas formadas em direito – ela por ambiente profissional e eu por meu trabalho de<br />

campo- entendíamos que aquela ferramenta das figuras podia ser um recurso<br />

interessante para uma sala de aula que reunisse esse público. Naqueles dias posteriores a<br />

essa conversa, eu fiquei com essas imagens na cabeça: diferentes figuras, conforme se<br />

priorizasse o ‘fundo’ ou a ‘forma’. O que levava a priorizar um ou outro? Por que<br />

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