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Baixar - Proppi - UFF

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juicio oral, estar com a vítima ou com seus familiares era uma opção diante de estar<br />

com os familiares do acusado. Na UFI, conversar livremente com o imputado gerava<br />

um mutuo constrangimento, pois, ao final de contas, eu estava sentada nas cadeiras da<br />

UFI antes dele chegar e fazia parte daquele mobiliário. Eram constrangimentos próprios<br />

de ocupar uma determinada posição social (e física) no cenário pesquisado. Também<br />

houve constrangimentos 149 devidos a vínculos pessoais entre meus interlocutores mais<br />

próximos e outros agentes.<br />

Bruno tinha me comentado que seria interessante eu conhecer uma defensora<br />

pública desse departamento que “trabalha muito bem”, Vanesa Tavares. Para mostrar<br />

um perfil diferenciado, Bruno disse que tinha um cartaz na “Mesa de Entradas” onde<br />

indicava os dias e horários específicos em que atendia os familiares, coisa que nem<br />

todos faziam. “O problema é que há já um tempo ela pediu o juicio político de<br />

Sebastián” 150 . Soube que defensora e promotor eram muito amigos até ela apresentar<br />

uma denúncia contra ele. Denunciava que, durante um procedimento de “reconstrução<br />

de um fato”, não assistido pela defensora, o promotor teria colocado uma arma na<br />

têmpora do imputado. Segundo ela, não para reconstruir, mas para ameaçar. A denúncia<br />

finalmente gerou um “sumário administrativo” que, posteriormente, não prosperou.<br />

Mas, a situação resultou, claro, no rompimento das boas relações. “A defesa para ela<br />

não tem limites e acredita tudo de todos os presos”, me explicava Valeria. Esta<br />

defensora representava uma linha e forma de trabalho reconhecida, nesse departamento,<br />

como diferenciada do comum das defensorias. Se “acreditavam”, ou não, no preso, se o<br />

aconselhavam para depor, ou não, se “produziam”, ou não, “provas”, eram linhas<br />

divisórias desses estilos.<br />

Durante um dos “turnos” na UFI, passei um tempo na defensoria de “turno”<br />

naquele dia. Eu tinha manifestado certo interesse e Valeria me disse que a defensora que<br />

estava naquele dia era acessível. O pedido de Valeria para eu acompanhar o que faziam<br />

foi concedido. Desci pelo corredor interno. As salas da defensoria eram iguais àquelas<br />

da UFI. Mesma distribuição, mesmos objetos. Móveis idênticos.<br />

Essa identidade de estrutura entre as UFIs e as defensorias era também percebida<br />

por Valeria e Sebastián. Eles diziam que muitos “imputados” trocavam um lugar pelo<br />

outro. “O mesmo prédio, a mesma roupa, todos se cumprimentam entre si”, disse<br />

149 Digo constrangimentos e não impedimentos, porque em certa medida se tratou de escolhas pessoais<br />

sobre o decorrer da pesquisa e sobre as relações que fui estabelecendo e consolidando.<br />

150 Procedimento solicitado para destituir funcionários públicos de seus cargos.<br />

152

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