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Baixar - Proppi - UFF

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problematizar certas práticas. Não pudendo ser instrumentalizado, não parecia “útil”<br />

para aqueles ouvintes 31 .<br />

Assim, naquele julgamento, o que meu incômodo parecia-me indicar era um<br />

choque de legitimidades disciplinares. Minha perspectiva não parecia encaixar onde o<br />

saber jurídico e o saber judicial tinham prioridade sobre qualquer outro tipo de<br />

linguagem, impondo seus objetivos, formas de construção dos “fatos” e técnicas de<br />

relato dos mesmos. No mesmo sentido, os atores judiciários também não pareciam<br />

sensíveis à incorporação de novas perspectivas. O incômodo parecia se basear, então, no<br />

fato de eu submeter um saber, para mim familiar, em um ambiente ao qual lhe era<br />

estranho.<br />

Ao final do depoimento, esperei na escada exterior do prédio que saísse o resto<br />

do “público”, pois, após meu testemunho, a audiência passaria para o dia seguinte. Saiu<br />

meu marido junto com um senhor a quem eu não conhecia. Logo este último se<br />

aproximou de mim e disse que tinha gostado muito do meu depoimento. Era morador do<br />

bairro de Dario, vizinho da família. Disse ter gostado porque “no bairro as intervenções<br />

da polícia são sempre complicadas, sempre sobre os mesmos rapazes, Dario não é o<br />

único, recentemente houve outro menino morto. Nesse bairro é muito difícil a relação<br />

com a polícia”.<br />

31 Esta distinção entre os dois saberes poderia ser aprofundada a partir da disussão que propõe Marshal l<br />

Sahlins sobre a opisição entre “razão prática” e “razão simbólica”. A primeira referida à idéia de que as<br />

culturas humanas são formuladas a partir da atividade prática e, fundamentalmente, do interesse utilitário.<br />

A segunda enfatizando o fato do homem viver de acordo com um esquema significativo e simbólico<br />

definido – a cultura- que nunca é o único possível. Ele sugere que “o debate entre o prático e o<br />

significativo é a questão fatídica do pensamento social moderno” e, nesse sentido, que “a disputa com o<br />

pensamento prático é clássica não só na antropologia como em toda ciência soial” (2003:8).<br />

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