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Baixar - Proppi - UFF

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atendente de um quiosque próximo disse ter ouvido disparos, mas não ter visto nada.<br />

Depuseram familiares da vítima e vizinhos.<br />

Depoimento de um vizinho: “Que alguém lhe comentou ‘mataram o Barata’.<br />

Que sabe por comentários do bairro que há um ano o Barata tinha matado<br />

alguém em um aniversário que comemorava a família Juarez. O morto era<br />

conhecido no bairro como Pacho. Que no bairro se comenta que Barata era uma<br />

pessoa agressiva e que sempre andava armado, era louco pelas armas”.<br />

Depoimento da esposa da vítima: “Que o que aconteceu foi produto de uma festa<br />

na casa de seu vizinho Juarez. Que a festa estava se desenvolvendo sadiamente e<br />

de forma pacífica (...). Que os sujeitos são de mal viver. Que o que comenta todo<br />

o bairro é que são “piratas do asfalto”, mas que, como em todas as coisas,<br />

ninguém quer se meter por medo a terminar como seu esposo”.<br />

Depoimento de uma testemunha, sem aportar o nome: “(...) Que há três meses,<br />

Barata foi ferido de morte. Que por comentários soube que os sujeitos que<br />

mataram Barata foram Tokio e Japa, os quais se movimentavam em uma moto.<br />

Que sabe que Japa chama-se Daniel Pérez e que esteve preso por ser “pirata do<br />

asfalto”. Que sabe onde moram todos. Que todos são temidos no bairro já que<br />

são delinqüentes e capazes de tirar a vida de qualquer pessoa. Que com o<br />

relatado pela depoente a mesma tem medo pela sua integridade física e a de sua<br />

família”.<br />

Assim como nos corredores de “Tribunales” se construía uma reputação dos<br />

funcionários, no “bairro” comentava-se sobre a forma de vida, a pessoalidade e os<br />

costumes de uma pessoa e de sua família. Nestes e outros vários casos de “homicídio”<br />

ou “tentativa de homicídio” com os quais tive contato, as pessoas envolvidas moravam<br />

no mesmo “bairro” e eram “conhecidas do bairro”, para o bem e para o mal...<br />

Por isso, “o que se comenta no bairro” envolvia tanto “autor” como “vítima”.<br />

Além de conhecer e comentar sobre a vida e caráter das pessoas, o “bairro” também<br />

comentava e sabia sobre informações relativas aos “fatos” investigados judicialmente.<br />

Todas essas informações tinham diferentes formas de ingressar nos processos, para que<br />

pudessem ser consideradas juridicamente valiosas. “Soube por comentários do bairro...”<br />

era uma forma de registro padronizada, que permitia incorporar, nos processos, os<br />

rumores que circulavam no bairro, entre vizinhos.<br />

Em inícios de outubro, enquanto lia o processo que envolvia Japa e Barata,<br />

Valeria recebeu um telefonema. Era o pai de um menino que tinha sido morto. Era outro<br />

dos sete homicídios deixados pelo “turno” do mês de agosto. O menino, de 15 anos,<br />

estava com seu irmão consertando uma moto na frente da casa dele, quando dois garotos<br />

tentaram roubar a moto e acabaram atirando no menino. A mãe chegou sair do interior<br />

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