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Baixar - Proppi - UFF

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contra crianças, entre Diego e Bruno. O pedido tinha partido da própria Alicia que,<br />

dizia-se, “muito tocada e sensível a esses casos”.<br />

Valeria e Sebastián manifestavam entender o espaço da UFI como um lugar de<br />

formação; portanto, “não há ninguém dedicado apenas a um tipo de crime, porque além<br />

de muito chato – imagina, a vida toda com um roubo simples-, rende pouco para a<br />

experiência”. Nesse contexto, os “meninos” trabalhavam diversos casos dentre aqueles<br />

representados como mais simples e rotineiros, como tentativa de roubo, roubo, roubo<br />

com arma, roubo de automotor, alguma falsa denúncia. Na verdade, esta delegação não<br />

dependia apenas da classificação penal do caso, pois havia tipos de roubo ou falsas<br />

denúncias consideradas mais complexas que eram trabalhadas por outros funcionários,<br />

inclusive por Valeria ou Sebastián. De qualquer forma, o critério era, aos poucos, ir<br />

fortalecendo a experiência dos “meninos”.<br />

As consultas com os promotores eram permanentes e estes podiam também<br />

acompanhar alguma situação específica no andamento do trabalho. Na verdade, este<br />

acompanhamento era domínio prioritário de Sebastián 144 . Ele sempre estava presente se<br />

o caso envolvesse o procedimento de “reconhecimento do acusado em roda de pessoas”,<br />

ou uma eventual ida ao “local do fato”. Também podia presenciar algum depoimento no<br />

qual considerasse necessário estar presente. Assim, a participação dos promotores nos<br />

processos trabalhados pelos “meninos” parecia se dar quando o processo precisava de<br />

certa formalização para ‘fora’ da UFI ou com a presença de alguém “fora do sistema”.<br />

Mas, nem sempre que houvesse um advogado particular Sebastián, Valeria ou Bruno<br />

tomavam conta ou participavam dos atos de um processo dos “meninos”.<br />

Já era outubro, quando Valeria me disse estar um pouco nervosa com um<br />

depoimento em um processo de Fred. Chamou-me a atenção o comentário, pois não<br />

tinha visto ela participar presencialmente dos processos do Fred, a não ser resolvendo<br />

consultas, lendo e assinando. Perguntei o motivo do nervosismo: “é que vêm os<br />

advogados, um deles foi vereador de Lurdes [um município da zona sul do<br />

conurbano]”. Fred tomou o depoimento sozinho. Havia mais de nove meses, um jovem<br />

tinha roubado a bicicleta do padre da igreja do mesmo bairro do jovem. A maior<br />

144 Nas instruções escritas, que Sebastián, como promotor titular, fazia circular de tempos em tempos na<br />

UFI havia uma incentivando a formulação de consultas, contra os perigos de uma prática tradicional da<br />

burocracia pública. Dizia assim: “Se o processo não é entendido ou não se sabe o quê fazer, NUNCA<br />

engavetá-lo, mas perguntar a um Promotor qual diligência pode ser feita”.<br />

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