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Baixar - Proppi - UFF

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amigo ele soube que Diego teria deambulado por uma casa abandonada na rua<br />

Belgrano”. Marconi foi lá, mas nada nem ninguém tinham achado. Olhou para mim e<br />

disse: “Doutora 184 , é muito difícil, eu estou dedicado a este processo quase<br />

exclusivamente, mas o garoto que a gente busca também não é um criminoso, é um<br />

garoto de bairro”.<br />

Já era dezembro quando ouvi essa frase pela boca de Marconi. Imediatamente<br />

me remeteu a muitos dos processos que li e dos depoimentos que assisti. Veio na minha<br />

cabeça o depoimento da mãe de Esteban Garza, acompanhada de sua filha, uma menina<br />

de quinze anos que aparentava bem menos, pois esperava há anos um transplante de<br />

rim. A senhora estava preocupada, no início, com que seu depoimento prejudicasse seu<br />

filho. Valeria disse que ela apenas perguntaria sobre o outro jovem e que, como mãe,<br />

nada do que ela dissesse poderia ser usado para prejudicar o filho.<br />

Valeria: a senhora conhece o outro rapaz?<br />

Mãe de Garza: sim, desde pequeno. O que eu não sei se não será o irmão, porque<br />

são muitos eles. O sobrenome é Tavares, o pai é uruguaio.<br />

Valeria: sim, eu pergunto se você conhece Pedro Tavares.<br />

Mãe de Garza: sim, eu não vou ter problemas, né? Por minha filha, porque nós<br />

duas ficamos mais no hospital do que em casa.<br />

Valeria: não, aquilo do depoimento que prejudique seu filho eu tenho a<br />

obrigação de extraí-lo. Ele é amigo do seu filho?<br />

Mãe de Garza: sim, é ou era. Porque eu vou lhe falar a verdade, ele se criou com<br />

o pai dele, ele se lembrou de mim agora há pouco.<br />

Valeria: como a senhora sabe que estava com seu filho?<br />

Mãe de Garza: porque ele saiu [da prisão] há dois meses e eu disse para ele não<br />

ir para o fundo porque ele mora na villa, e eu ouvia Pedro daqui, Pedro de lá. Eu<br />

disse para ele que se re-inserisse na sociedade e ele começou a trabalhar por seus<br />

filhos. Então, olhe, em qual momento ele fez isso ninguém no bairro pode<br />

entendê-lo, porque ele acordava e ia trabalhar.<br />

Valeria: a violência do fato foi desmedida.<br />

Mãe de Garza: sim, eu não sei, eu não sei por que ele faz isso, os vizinhos não<br />

podem acreditar. Eu e meu marido nem acreditávamos. Eu disse para o oficial<br />

que, por favor, o levassem a um psiquiatra. Eu via ele brincar com a irmã e a<br />

pegava do pescoço...<br />

Valeria: igual fez com a garota. E a garota também não pode acreditar porque<br />

disse que conversavam.<br />

Mãe de Garza: sim, ele me disse que estava apaixonado, um amor de pessoa. Ele<br />

disse que não sabe o que é que lhe aconteceu.<br />

Valeria: sim, uma violência desnecessária, não é um simples roubo. O que lhe<br />

falta é um limite.<br />

184 Daquele modo me chamou durante toda a pesquisa, embora eu tivesse esclarecido desde a primeira vez<br />

que não era doutora.<br />

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