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Baixar - Proppi - UFF

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formadores de “culpa”. Mentir sem fundamentos, ocultar informação (como por<br />

exemplo, não aportar o endereço de Raúl Lucero, ou, em outros casos, se negar a ser<br />

submetido a alguma perícia), ameaçar ou atentar contra outra parte envolvida, eram, se<br />

não provas, pelo menos fortes indícios contra o “imputado”. Alguém “inocente” deveria<br />

estar livre de tais iniciativas 239 .<br />

No dia seguinte, Quique se apresentou na UFI. Começou por conversar com<br />

Sebastián sobre vários aspectos do processo. No meio da conversa, sem que nenhuma<br />

pergunta direta fosse formulada, Quique disse:<br />

Nesta semana eu fiquei pensando e eu tenho certeza que é ele, porque quando eu<br />

estava com meu primo ele passou e olhou para nós e aí eu o vi, lembro da cara<br />

dele, mas aí não se animaram e depois passaram de novo e eu tenho certeza que<br />

é ele. [Sebastián mostrou a foto do “reconhecimento” e leu as palavras<br />

duvidosas registradas naquele procedimento]. É que depois eu pensei mais e<br />

tudo se passou por minha cabeça... eu andava pela rua e via todos iguais. Mas<br />

depois, quando o vi, logo soube que era ele... Era meu primo, eu andava sempre<br />

com ele. Agora vêm as férias e eu sempre saía com ele e… o matou diante de<br />

mim, eu vi, se eu... [Quique começou chorar, mas continuou falando]... se eu<br />

podia, o seguia e matava.<br />

Sebastián finalizou o depoimento registrando que, quando foram exibidas as<br />

fotos do “reconhecimento em roda”, novamente “reconheceu” o número dois – Cacá- e<br />

que “não tinha dúvidas daquilo. Que quando o promotor lhe solicitou maiores detalhes<br />

naquele momento, começou a duvidar, mas agora tinha certeza”. O depoimento foi<br />

encerrado. Quique saiu da UFI, ainda emocionado pela situação. Sebastián se despediu<br />

dele, pois a primeira etapa da investigação chegava a seu fim. A emotividade de Quique<br />

mostrava seu compromisso emocional com a resolução do processo. Talvez, também,<br />

fosse um sinal de alivio pelo fato dessa resolução estar sendo concluída, com a prisão de<br />

um “autor”. Lembrei naquela situação um comentário de Sebastián sobre o dia da<br />

“reconstituição do fato”:<br />

Para mim naquele dia havia muito clima de equipe entre todos, não só entre nós,<br />

promotor, secretário, policiais, Claudio. Mas também com as pessoas do bairro.<br />

Óbvio que os papéis estavam definidos, mas eu senti que todos trabalhávamos<br />

239 Esta perspectiva se associava a outra que já tinha ouvido por parte de diversos funcionários sobre o<br />

fato de quem “realmente” era inocente achar que não precisava sequer de defensor (Eilbaum, 2008). No<br />

decorrer das audiências da UFI, Alicia tinha citado um jovem que estava preso por um homicídio<br />

investigado em outra UFI. Alicia o citava para notificá-lo de uma perícia que seria feita sobre um projétil,<br />

em outro processo de “homicídio” que ela investigava. Após um tempo de conversa, Alicia disse para<br />

ele:<br />

Alicia: você pode exercer seu direito de defesa, até já tem seu advogado do outro processo.<br />

Jovem: não, mas eu não vou chamar meu advogado para isto, se eu não tenho nada a ver.<br />

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