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Baixar - Proppi - UFF

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terminava de “acreditar” nos policiais. Dona Clara também parecia dizer a verdade, mas<br />

dizia o oposto ao policial no qual mais tinha “acreditado”. Finalmente, considerando<br />

que não tinham antecedentes, lhes deu a liberdade, pensando em enviar o caso a<br />

julgamento.<br />

Janeiro foi um mês tranqüilo na UFI. Entretanto, o “turno” de dezembro,<br />

incluindo 24 e 25 de dezembro, tinha rendido casos para os funcionários que não saíram<br />

de férias naquele mês. Na primeira semana de janeiro, foram chamados para depor dois<br />

policiais. Um preso tinha fugido da comisaría onde eles prestavam serviço. Um deles, o<br />

“oficial de serviço”, contou que eram apenas quatro policiais de plantão e que, quando<br />

chegou à cela, o preso já não estava. Destacava que a estrutura da comisaría era<br />

precária. Quando saiu da sala da UFI, Valeria me disse que o que tinha falado era<br />

“assim mesmo”. Ela conhecia essa comisaría e disse ser “um desastre, não colocam<br />

imaginária 178 porque não tem nem pessoal”. Acostumada com a terminologia que vinha<br />

ouvindo na UFI, pensei que tinha “acreditado” na testemunha. Valeria dizia que não se<br />

podia responsabilizar aos policiais de plantão com essa estrutura tão precária.<br />

Durante os primeiros dias janeiro, acompanhei o caso dos Santana trabalhado<br />

por Pedro, o mais recente dos “meninos” na UFI, estudante de ciência política. Pedro<br />

passou a identificar o caso como “o processo dos mentirosos”. No meu caderno de<br />

campo, ficou registrado como “o processo do conflito familiar” e juridicamente foi<br />

classificado como “resistência à autoridade e lesões”. Na noite do 25 de dezembro, a<br />

mãe de Pablo Santana ligou para o serviço de emergências da polícia bonaerense<br />

(“911”) porque seu filho estava agredindo física e verbalmente ela, o pai e a concubina.<br />

Quando a viatura chegou à casa dos Santana, dois policiais tentaram detê-lo, mas<br />

receberam chutes que, por sua vez, teriam provocado uma resposta policial mais<br />

enfática. Na comisaría e, posteriormente na UFI, depuseram o pai, a mãe, a concubina e<br />

a irmã, a qual apareceu no final da cena tentando defender e proteger o irmão dos<br />

policiais. Todos reconhecerem em Pablo uma boa pessoa, mas que, quando bebia, ficava<br />

alterado e agressivo. Também todos explicaram que, de fato, ele tinha sido proibido de<br />

beber álcool, porque tomava medicação para os nervos. Só que na noite do dia 24 de<br />

dezembro tinha se excedido com a sidra. A negativa da mãe de dar mais bebida, teria<br />

sido o motivo do início das agressões.<br />

Pedro: vou lhe pedir que me relate o que é que aconteceu.<br />

178 Categoria usada para nomear o policial que fica custodiando os presos.<br />

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