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Baixar - Proppi - UFF

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correr o risco da testemunha acabar dizendo “o defensor me disse que diga tal cosa”.<br />

Em especial, porque, segundo eles, a testemunha perdia credibilidade.<br />

No dia de seu depoimento, embora Walter não lembrasse da data do “fato” com<br />

precisão, afirmou que “naquele dia” estava com Cacá bebendo cerveja, “como sempre”.<br />

Também que Cacá tinha tido uma discussão com “sua garota”, que tinha saído o pai<br />

dela e tinha dado um soco em Cacá, que teria voltado onde “sempre nos juntamos,<br />

quando nos contou isso tudo”. Sebastián solicitou algumas informações mais<br />

específicas, mas Walter não lembrava com quais amigos estavam, apenas que “eram os<br />

de sempre”. Também não lembrava que horas tinha chegado, nem que horas Cacá se<br />

juntou a eles novamente, mas lembrava que às onze e meia da noite a mãe de Cacá o<br />

tinha chamado para que entrasse na casa porque estava bêbado. Surpreendeu-se diante<br />

da pergunta de Sebastián sobre se tinha ouvido Raúl Lucero gritar que tinham matado<br />

Cacá e garantiu não ter ouvido nada disso: “não! se estava comigo!”. Também disse não<br />

conhecer ninguém de nome Raúl Lucero. A única vez que ouviu mencionar aquele<br />

nome tinha sido quando, segundo contou, “caiu a polícia na minha casa, toda a<br />

brigada 231 , sendo eu uma testemunha, um amigo da família, caíram mesmo assim na<br />

minha casa perguntando por esse Raúl, mas eu nem o conheço”. Quando o depoimento<br />

foi concluído, e Walter já estava de saída, acrescentou seu último comentário: “salve<br />

meu companheiro, mestre”.<br />

Alguns dias depois de Walter, foi depor o outro cunhado, Tony. Como vimos,<br />

Tony já era conhecido de Sebastián porque tinha participado do “reconhecimento”,<br />

junto com Cacá. Como o resultado do “reconhecimento” tinha sido negativo, Tony tinha<br />

sido desvinculado do processo como “imputado”. Naquele dia, estava na UFI como<br />

testemunha. Por conta disso, Sebastián se preocupou em esclarecer: “agora você está<br />

como testemunha, portanto você está sob juramento de dizer a verdade. É um pouco<br />

complicado de entender, mas agora você tem que dizer a verdade” 232 .<br />

Apesar da desvinculação do processo, toda a primeira série de perguntas foi em<br />

torno do casaco: por que o estava usando, se sabia de onde vinha, se sabia que “tinha<br />

231 A brigada era o grupo de policiais de investigação que agiam à paisana. Trata-se dos policiais que<br />

mantêm um vínculo mais próximo com o bairro, não por atividades de policiamento ostensivo, mas pelas<br />

suas tarefas de investigação e averiguação de informações.<br />

232 Como mencionei no capítulo 5, nos depoimentos de testemunhas na UFI não se procedia ao ato de<br />

juramento formal de dizer a verdade. Ou, nem se fazia menção, dando a mesma por pressuposta, ou,<br />

diante de circunstâncias específicas, como a aqui descrita, fazia-se alusão a ela.<br />

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