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Baixar - Proppi - UFF

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enfatizando o fato de ele se inscrever naquele padrão familiar defendido pelos<br />

“vizinhos”.<br />

Também é verdade que as informações circulantes eram diferentes em relação a<br />

Marisa e a Carlos. Ambas referiam a um âmbito central da vida de um bairro, qual a<br />

vida doméstica e familiar. No caso de Marisa, ressaltava-se o não cumprimento de seu<br />

papel de mãe (em relação ao cuidado, higiene e alimentação das crianças) e de dona de<br />

casa (a limpeza da casa e o preparo da comida). No caso de Carlos, vinculavam-se à<br />

atenção dada aos filhos e também a Marisa, enquanto esposa 215 . A fofoca dominante em<br />

relação a estes assuntos parecia estar consolidada na opinião dos “vizinhos”, pois as<br />

informações que circulavam giravam em relação aos mesmos tópicos (o carrinho<br />

vendido, a falta de limpeza, o fedor da casa, a ajuda de todos, a roupa nova de Carlos, a<br />

magreza de Marisa, os piolhos das crianças, a clausura dos filhos). Eram críticas que<br />

talvez fossem repetidas insistentemente nas conversas informais, inclusive, sem<br />

provocar grandes reações (Fonseca, 2004:47). O que a morte do bebê, como evento<br />

crítico, parecia ter provocado era o fato dessas informações saírem do âmbito do<br />

“bairro” e colocarem em risco a reputação do mesmo diante das autoridades públicas e<br />

judiciais.<br />

O desfecho<br />

Após ouvir os depoimentos, as impressões que Valeria e Alicia teriam dos<br />

“imputados” voltaram a ser formuladas nas conversas informais na UFI. Valeria insistia<br />

em ter mudado um pouco sua opinião. Dizia que “conforme os depoimentos, era<br />

estranho o pai [Carlos] não ter se apercebido da situação dos filhos”. Essa mudança de<br />

perspectiva, para ela, transformava a hipótese de um crime “culposo” em um, como ela<br />

o expressava, de “dolo eventual”. Isto é, de um crime no qual o pai teria atuado por<br />

negligência a um em que ocorre quando ele assume o risco do eventual resultado. Por<br />

sua parte, Alicia opinava que achava estranho a assistente social não ter “se tocado da<br />

situação dos bebês, em ocasião das visitas que fazia”. Enquanto afirmava tal opinião,<br />

também expressava suas dúvidas sobre o fato de Marisa realmente “mostrar os gêmeos”<br />

para a assistente social. Assim, a responsabilidade voltava a recair sobre Marisa e a<br />

215 Também Claudia Fonseca, na etnografia já citada, achou uma associação entre as acusações realizadas<br />

contras as mulheres versarem sobre negligência quanto às obrigações domésticas e aquelas realizadas<br />

contra os homens sobre a crítica deles não se ocuparem dos filhos ou não darem nada para eles (2004:47).<br />

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