01.06.2014 Views

Baixar - Proppi - UFF

Baixar - Proppi - UFF

Baixar - Proppi - UFF

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Conhecida como La Bonaerense, em agosto de 1996, a polícia da província de<br />

Buenos Aires já tinha sido batizada como “La Maldita Policía”. O nome foi acunhado<br />

por dois jornalistas dedicados à investigação das redes de corrupção daquela instituição,<br />

cujos resultados foram publicados no livro “La Bonaerense. Historia Criminal de la<br />

Policía de la província de Buenos Aires” (1997) 58 . Denunciavam no livro que os agentes<br />

da Bonaerense –desde os altos escalões até os níveis inferiores- estavam envolvidos em<br />

variados tipos de negócios: venda de processos a advogados, gerenciamento do jogo, da<br />

venda ambulante; da prostituição; das drogas; da compra e venda de auto-peças, entre<br />

outras atividades. O certo é que a administração destas atividades havia anos fazia parte<br />

da dinâmica da instituição policial e desta com o poder político da província. Uma<br />

relação que Marcelo Saín (2008) 59 caracterizou como um “pacto de reciprocidade”:<br />

Este pacto –afirma- se assentou sobre a base de dois compromissos<br />

fundamentais. Do lado governamental, foi garantida à instituição policial uma<br />

espécie de independência institucional baseada na não ingerência oficial no<br />

relativo à organização e funcionamento policial, a proteção de certos chefes e<br />

quadros funcionais ao pacto (...), bem como a indiferença –“vista grossa”- ou o<br />

encobrimento governamental diante dos dispositivos e fatos de corrupção e os<br />

abusos policiais, e até a proteção política diante de certas modalidades de<br />

regulação de determinadas atividades delitivas de alta rentabilidade econômica.<br />

Do lado policial, foi garantido às autoridades governamentais um grau<br />

socialmente aceitável de eficiência no controle formal e informal do delito,<br />

permitindo uma magnitude criminal que não gerasse reclamos ou protestos<br />

cidadãos ou que não deixasse espaços para situações de crises políticas,<br />

garantindo também serviços políticos informais, que foram desde espionagem e<br />

tarefas de inteligência ou ameaças e pressões sobre opositores e adversários até o<br />

financiamento de certas atividades políticas ou o enriquecimento de algumas<br />

autoridades governamentais do setor (2008:126).<br />

Nesse contexto, pode-se pensar que não foram em si os atos de corrupção os<br />

motivos da intervenção civil. Uma série de crimes de altíssima repercussão e a derrota<br />

do governo provincial nas eleições legislativas de 1997 atuaram como o motor de uma<br />

decisão que, por muitos, era vista como imprescindível e, por muitos outros, como<br />

58 Os autores são Carlos Dutil y Ricardo Ragendorfer. Um segundo volume sobre a mesma –e persistentetemática<br />

foi publicado em 2006 por Ricardo Ragendorfer (Dutil morreu em 1997, pouco depois da<br />

publicação do primeiro volume). O nome do novo livro foi “La Bonaerense 2. La Secta del Gatillo”.<br />

59 Marcelo Saín é um cientista político que participou do desenho da reforma policial que prosseguiu à<br />

intervenção civil e que, em julho 2002, assumiu o cargo de vice-ministro de Segurança da província. Em<br />

janeiro de 2003, deixou esse cargo, entre outros motivos, após afirmar que a polícia se financiava<br />

ilegalmente, com o apoio dos prefeitos e coronéis políticos da província. Publicou dois livros (2008,<br />

2004) sobre sua experiência oficial na área de Segurança na província, “como analista e como ator da<br />

trama abordada” (2008:20). Para as questões por ele colocadas, ver também o filme “El Boanerense”<br />

dirigido por PabloTrapero.<br />

77

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!