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Baixar - Proppi - UFF

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quadras do promotor titular, mas quem ‘leva’ esse processo sou eu”. Em outros casos,<br />

também o imputado ou uma testemunha chamaram o funcionário de “juiz”, como se<br />

esse fosse o cargo de autoridade que englobasse todos os outros. O Dr. Felllini, um<br />

advogado com uma visão crítica destas interações, me dizia que, para ele:<br />

Há toda uma confusão também dos familiares, porque às vezes me dizem ‘falei<br />

com a juíza’ e você diz ‘se é um juiz, como assim com a juíza?’, ‘a menina que<br />

me atendeu’, ‘ah, a meritória da Mesa de Entradas’. O imaginário é que quem<br />

atende é o juiz e o certo é que os funcionários nunca se ocupam de esclarecer<br />

que são funcionários e não são juízes. (Entrevista com Dr. Fellini, 07/05/09)<br />

Na minha percepção, não se tratava tanto de saber o cargo correto da pessoa com<br />

a qual falavam, mas de outorgar autoridade ao interlocutor que os tinha recebido.<br />

Apesar dos esclarecimentos de Valeria, Lorenzo continuou dizendo que morava do lado<br />

do juiz. Inclusive, pessoas achegadas a ele, aproveitando a proximidade de vizinhança,<br />

deixaram uma carta na mesmíssima casa “do juiz” – de Sebastián- reclamando pela<br />

liberdade de Lorenzo. Ao final, embora fosse Valeria a responsável pelo processo, a<br />

capa de todos os processos dessa UFI tinha o nome do promotor titular, Sebastián<br />

Vázquez.<br />

“Pedir o preso”<br />

No ritmo do “turno”, na medida em que acompanhava as ligações da polícia me<br />

movia também de sala em sala. Quando tocava a campainha da porta de trás, ficava<br />

atenta para saber onde me dirigir. Eram os guardas que avisavam que “traziam um preso<br />

de baixo”. “Baixo” sinalizava o subsolo do prédio. Lá estava localizada a carceragem<br />

onde os presos aguardavam a realização de qualquer ato judicial que requeresse sua<br />

presença (julgamento, depoimento, reconhecimento). Quando citados, eram<br />

transladados do local onde estivessem presos (comisaría ou prisão), para o prédio de<br />

“Tribunales”. O local tinha uma entrada específica para que ingressassem as viaturas da<br />

polícia ou do serviço penitenciário.<br />

O subsolo era, como previsível, um local lúgubre e escuro. Além disso, a<br />

umidade impregnava as paredes e o piso. A área da carceragem era, fundamentalmente,<br />

um corredor dividido em duas partes separadas por uma grade. De um lado era a antesala.<br />

Ficava um policial registrando, em um “livro”, as entradas e saídas dos presos. Era<br />

também quem atendia, pelo telefone, os funcionários judiciais que “pediam um preso”.<br />

Do outro lado da grade, estavam as celas. Eram dois grupos de celas a cada lado de um<br />

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