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Baixar - Proppi - UFF

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outras UFIs e em outros departamentos. Também as diferenças e disputas entre as<br />

visões do trabalho entre os próprios integrantes da UFI funcionaram como contrastes<br />

entre posições diferenciadas. As avaliações feitas por uns sobre o que os outros podiam<br />

chegar a me dizer ou ‘mostrar’ do sistema permitiu também um “controle de<br />

impressões” mais agudo e heterogêneo.<br />

Ir ganhando a confiança dos funcionários da UFI não foi uma experiência<br />

homogênea com todos. Em alguns casos foi mais imediata, em outros teve custos,<br />

pessoais e metodológicos, mais altos. Em todos os casos, foi um processo que me<br />

ajudou a conhecer e pensar sobre possíveis formas de “fazer justiça”, vinculadas a<br />

trajetórias e histórias pessoais, profissionais e ideológicas. Esse processo também me<br />

ajudou a repensar clivagens próprias e entender, no contexto, minha própria identidade<br />

no campo.<br />

“Ser do conurbano”: ou não ser...<br />

Muitas das minhas conversas com Bruno foram em algumas das oportunidades<br />

em que, saindo da UFI, voltei no carro dele para Capital. Bruno era o único da UFI que<br />

morava na cidade de Buenos Aires; todos os outros moravam na zona sul do conurbano,<br />

dentro do raio do departamento de Los Pantanos. Era outra característica que distinguia<br />

Bruno do resto. Ela também passou a me distinguir, em um aspecto que eu nunca tinha<br />

pensado como distintivo em relação ao conurbano 129 . É verdade que para essa altura,<br />

meu marido, também antropólogo, mas carioca, encontrava-se fazendo trabalho de<br />

campo na Argentina. Começando pela cidade, a pesquisa o levou para dentro do<br />

conurbano. Voltava a casa, falando do que parecia uma descoberta para ele, pois nas<br />

suas viagens anteriores comigo apenas tinha conhecido a Capital. Percebia grandes<br />

diferenças, tanto com a cidade, como com o Grande Rio (Pires, 2010). Esta interlocução<br />

me permitiu entender melhor o por quê da distinção que meus interlocutores da UFI<br />

faziam entre “ser de Capital” e “ser de província”.<br />

129 “Ser portenha” –nascida na cidade de Buenos Aires- era uma identidade que se ativava sempre em<br />

viagens por outras províncias do país ou, inclusive, outros países da América Latina, geralmente<br />

percebida de forma negativa. A migração para o Brasil também reforçou essa identidade contrastiva,<br />

talvez nem tanto entre os brasileiros que se referiam de forma geral (embora, também muitas vezes<br />

negativa ou irônica) aos “argentinos”, mas, de forma mais clara, entre os argentinos residentes no Rio de<br />

Janeiro. Pessoalmente, nunca tinha representado a identidade de “portenha” em contraste com uma<br />

identidade “bonaerense” ou do conurbano.<br />

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