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Baixar - Proppi - UFF

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Quando chegavam também não eram, na visão de Valeria, muito eficientes. Parte disso<br />

era atribuída à falta de capacitação. Outra parte enfatizava, novamente, as<br />

particularidades do conurbano.<br />

Sebastián: A famosa ‘preservação do local dos<br />

fatos’ se supõe que deveria ser sagrada. Mas em<br />

Los Pantanos a maioria dos homicídios é em<br />

favelas e antes de você chegar já passou o<br />

cachorro e lambeu a cara do corpo ou as crianças<br />

passaram e chutaram as balas.<br />

Valeria: não sei por que, mas os locais também<br />

sempre estão perto de algum córrego de água e<br />

estão cheios de lama.<br />

S: sim, por isso eu não uso terno e gravata.<br />

V: mentira, você não usa porque não gosta, mas é verdade que, como nós vamos ao<br />

local dos fatos, é melhor vir com roupa comum. No outro dia, eu estava feliz porque me<br />

tocou um homicídio no centro de Los Pantanos. É o melhor que pode te acontecer<br />

porque não tem lama, mas nunca toca no centro!<br />

A questão do gosto ou não pelo terno não era um dado menor. De fato, como<br />

falei, eu já tinha tido dificuldades em reconhecer a promotora naquela mulher de jeans,<br />

tênis e moletom. A roupa que vinha observando entre os funcionários do Judiciário<br />

bonaerense parecia-me, em alguns casos, menos formal, e, em outros, menos sóbria, em<br />

relação ao vestuário da Justiça Federal. Mas, na UFI K, eles mesmos afirmavam não<br />

serem típicos ‘também’ nesse aspecto. “Você vai ver que a gente não é muito<br />

representativa”, me disse Valeria. E agregou:<br />

No outro dia, encontrei uma juíza no elevador. Perguntou se eu era da vara<br />

criminal porque precisava de um favor. Disse que era a promotora da UFI K. A<br />

senhora me olhou de cima para baixo, sem acreditar que eu fosse promotora.<br />

Ir ao local dos fatos, pisar na lama, não usar terno. Cada um desses aspectos<br />

eram formas de se apresentarem para mim. Marcando territórios, definindo identidades<br />

e, com isso -senti eu- testando também a(s) minha(s). Começava a perceber que uma<br />

linha era sutilmente traçada. Se, como coloquei na introdução, pesquisas acadêmicas<br />

têm se dedicado a enfatizar o caráter hermético da atividade e linguagem do poder<br />

judiciário, muitos integrantes do mesmo, como Sebastián e Valeria, não eram alheios a<br />

essas opiniões. De alguma forma, a ênfase, não na falta de recursos, mas na roupa que<br />

usavam, nas ruas e bairros que visitavam, no contato pessoal com as pessoas que<br />

atendiam, anunciava uma representação de eles estarem mais perto “das pessoas” do<br />

que os acadêmicos pensavam, e, inclusive, do que os próprios acadêmicos. Não percebi<br />

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