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Baixar - Proppi - UFF

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de imputado, tem o dever de lhe oferecer a possibilidade de defesa”, me respondeu. Era<br />

claro para Bruno que o uso de categorias jurídicas não era neutro.<br />

Outras vezes se aproximava onde eu estivesse sentada e me entregava um<br />

processo que ele estivesse trabalhando. Sem me dizer nada, queria saber o que eu<br />

opinava. Também fazia isso quando eu presenciava situações de depoimento ou de<br />

outro procedimento, com ele. Bruno conhecia também sociólogos e criminólogos que eu<br />

tinha lido ou conhecia, o que nos levava a manter conversas sobre temas dessas áreas.<br />

Nessas conversas surgia um estilo pessoal de fazer o trabalho na UFI, também<br />

perceptível observando sua forma de trabalhar. Um dia no meio de um depoimento de<br />

um “imputado”, o jovem mostrava-se inquieto por falar. Bruno leu a ata da defensoria<br />

onde dizia que, por conselho da defesa, ele não iria depor e deixava-se “constância que<br />

o imputado manifestou NÃO requerer a presença do pessoal letrado nesse ato”.<br />

Bruno: aqui o defensor disse que você não quer a presença dele, isso é assim?<br />

Jovem: como?!<br />

Bruno explica todos os passos do processo para ele e pergunta: você leu o papel<br />

que a defesa te deu na entrevista?<br />

Jovem: não.<br />

Bruno: e sobre a presença deles aqui?<br />

Jovem: não me perguntaram nada, se não, óbvio que tivesse dito que estivessem.<br />

Bruno ligou para a defensoria e solicitou que alguém descesse, pois “o imputado<br />

desejava que alguém o acompanhasse”. Chegou uma funcionária da defensoria pública.<br />

Bruno explicou a situação para ela e deixou eles dois na sua sala. A funcionária estava<br />

visivelmente incomodada. Em um tom rígido, disse para o jovem que já tinha explicado<br />

tudo para ele e não iria explicar tudo de novo, que se ele não ia depor, ela não tinha<br />

obrigação de estar presente. O jovem, talvez empolgado pela atitude de Bruno, repetiu<br />

para ela que achava óbvio que ele não iria querer estar sozinho em uma situação como<br />

essa. Quando Bruno entrou novamente na sala, a funcionária, em uma leitura particular<br />

da situação, brincou com ele: “está com medo de você”.<br />

Perguntar o imputado se a resposta na ata foi o que ele realmente disse e quer,<br />

bem como ligar para uma defensoria de plantão solicitando que alguém desça para<br />

presenciar um depoimento no qual o imputado não vai depor era uma atitude<br />

absolutamente pouco comum. Marcava um estilo que era tido por alguns na UFI como<br />

do processo. Com “60” refere-se ao artigo do CPP/PBA que define as garantias mínimas que devem ser<br />

lidas pela autoridade interveniente (geralmente, a polícia) quando uma pessoa é detida.<br />

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