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Baixar - Proppi - UFF

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nesse “ofício”, no qual “o importante é a forma em que os argumentos são expostos”<br />

(1999:14). Ela analisou não apenas sessões de Júri, mas também manuais e cursos de<br />

oratória (oferecidos pela Escola Superior de Advogados – OAB-RJ). Identificou em<br />

todos eles a produção e reprodução de um “modelo único de fala, característico do Júri”<br />

(1999:16). Conforme este modelo, eram ensinadas e praticadas técnicas que treinassem<br />

e tornassem seus oficiantes “bons oradores”; atributo essencial, segundo Rinaldi, para a<br />

aquisição de prestígio no campo (1999:38). Como ficar de pé, como usar o microfone,<br />

como falar, como olhar, como expressar um semblante, a alternância dos argumentos e<br />

de tons de voz. O modo de desenvolver todas essas técnicas destacava um “bom<br />

orador”. O júri, conforme Rinaldi, ao relegar o aspecto técnico a um segundo plano, era<br />

“o ofício que dava maior destaque à oralidade” (1999:14). Nele, era necessário<br />

persuadir os ouvintes leigos do argumento defendido. Para tal fim, a oratória aparecia<br />

como o instrumento mais eficaz 258 . Ela não só outorgava prestígio profissional, mas era<br />

a técnica que favorecia o “convencimento” daqueles que deviam decidir pela<br />

condenação ou absolvição. No caso do Júri, os sete jurados. “Convencer” quem decidia<br />

era a arte fundamental não só deste sistema, mas também do sistema de justiça na<br />

província de Buenos Aires. A diferença parecia estar nas pessoas a serem convencidas<br />

e, portanto, nas técnicas utilizadas para tal fim.<br />

“Alice no país das maravilhas”<br />

A experiência de observar sessões no Tribunal do Júri do Rio de Janeiro me fez<br />

pensar nas formas expositivas e argumentativas das audiências de juicios orales, na<br />

província de Buenos Aires 259 . Claramente por contraste. Já tinha experimentado um<br />

contraste semelhante, mas em outro âmbito. Desde 1997, participava em congressos de<br />

antropologia onde, além de meus colegas argentinos, também apresentavam seus<br />

trabalhos pesquisadores brasileiros. Sempre me chamava a atenção, e, de fato,<br />

comentávamos com as colegas mais próximas, as diferenças no estilo de apresentação<br />

dos trabalhos por parte de pesquisadores brasileiros e argentinos. Os primeiros, de<br />

258 Na sua etnografia sobre o Tribunal do Júri no Rio de Janeiro, Luiz Figueira também ressalta: “O<br />

desempenho cênico e a competência cênica são fatores fundamentais à decisão que sairá dos votos dos<br />

jurados – na sala secreta. A competência cênica caracteriza-se pela aptidão para utilizar e adequar as<br />

múltiplas estratégias discursivas e não-discursivas ao contexto do embate contraditório objetivando<br />

conquistar os jurados para a tese que está sendo defendida” (2007:227).<br />

259 Também em relação aos juicios orales do sistema processual penal federal, na cidade de Buenos Aires<br />

(Eilbaum, 2008; ver também Sarrabayrouse, 1998).<br />

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