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Baixar - Proppi - UFF

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Cacá: eu trago para você, se você quiser. [Valeria registra na ata que “fica à<br />

disposição da UFI”].<br />

Defensor: se sabe se, do endereço dele, apreenderam alguma vestimenta.<br />

Cacá: o casaco, esse com pelúcia, com feche, marrom escuro, há um mês e meio.<br />

Valeria: onde você conseguiu esse casaco?<br />

Cacá: minha mãe comprou de uns vendedores ambulantes que passaram<br />

vendendo panos de chão.<br />

Defensor: conhece alguém de nome Jesus?<br />

Cacá: sim, se chama assim: Jesus Moreira.<br />

Defensor: sabe onde ele mora?<br />

Cacá: sei como chegar 226 .<br />

Defensor: se Sopa lhe produziu alguma lesão.<br />

Cacá: sim, aqui [assinala a frente], vê que eu tenho machucado?<br />

Defensor: até que horas você ficou na esquina?<br />

Cacá: até que chegou meu pai, 12h00.<br />

Defensor: contou para seu pai? [da briga com Sopa].<br />

Cacá: sim, porque ele é mais passivo que minha mãe.<br />

Valeria leu a ata da tela do computador. Assinada a ata 227 , Cacá foi conduzido de<br />

volta à comisaría na qual estava preso. Enquanto saíamos com Valeria do prédio, ela se<br />

comunicou com Sebastián para contar sobre o depoimento. Segundo ela, as informações<br />

mais relevantes aportadas por Cacá referiam ao fato dele ter falado sobre a briga com<br />

Sopa, sendo este seu sogro; sobre ter estado com um tal Raúl Lucero, que esse Raúl<br />

teria aparecido dizendo que tinham matado Cacá e que ele tinha permanecido na<br />

esquina da casa com seu grupo de amigos.<br />

“Evacuar os ditos”<br />

Cacá tinha dito que era “inocente”, que ele “não tinha nem idéia do que é que<br />

tinha acontecido”. Mas essa não era a hipótese de Sebastián. Embora afirmasse que<br />

ainda não estava “convencido” de efetivamente ter sido Cacá quem matou Santiago,<br />

entendia que as provas reunidas até o momento fundavam a “suspeita suficiente”<br />

226 Esse tipo de diálogo, em que o funcionário judicial perguntava por um dado concreto e pontual (um<br />

endereço, um sobrenome) e o depoente –imputado ou testemunha- respondia com frases do tipo “sei<br />

como chegar” ou “apenas sei o apelido” era muito comum. Parecia evidenciar a exigência do saber<br />

judicial em trabalhar com dados pontuais e o contraste com um saber cotidiano por vezes mais difuso ou<br />

geral.<br />

227 Como Cacá tinha dito que não sabia ler nem escrever, assinei a ata como “testigo a ruego”<br />

[“testemunha a rogo”]. O objetivo é que essa testemunha presencie o depoimento e assine dando por<br />

provado que aquilo que foi registrado por escrito não tergiversa o que foi exposto oralmente. Na UFI,<br />

quem sempre cumpria esse papel era o “meritório”. Segundo Sebastián, porque era a única pessoa<br />

disponível que não pertencia ao elenco estável e formal da UFI, o que permitiria certa objetividade<br />

formal. Não que o “meritório” presenciasse o depoimento, mas era chamado posteriormente para assinar.<br />

Nunca vi uma testemunha, “imputado” ou defensor reclamando de tal situação.<br />

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