01.06.2014 Views

Baixar - Proppi - UFF

Baixar - Proppi - UFF

Baixar - Proppi - UFF

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

exclamou. O estranhamento tinha a ver com a diferença com a forma como o<br />

procedimento era realizado por eles na fase de instrução, tal como relatei no capítulo<br />

anterior.<br />

Lá, na sala do tribunal, o “reconhecimento” tomava uma forma mais direta, mais<br />

cara a cara. Quando a testemunha já estava de frente para a sala, o presidente pedia para<br />

que “dentre as pessoas do sexo masculino de toda a sala, à exceção dos policiais [?!],<br />

diga se reconhece a pessoa mencionada”, isto é, Cacá como autor dos disparos. No caso<br />

de Ivan, o juiz pediu para ele subir no estrado do tribunal e olhar desde aí. Foi a<br />

primeira vez que vi o rosto completo dele. O menino olhou para a sala e, sem hesitar,<br />

disse: “é ele”, assinalando Cacá, sentado junto com seu advogado.<br />

“Era meu xodó”<br />

Ivan foi a última testemunha a efetuar o “reconhecimento” de Cacá na sala de<br />

audiências. A primeira foi Quique, que depôs logo depois de seu Júlio. Quique ficou em<br />

pé, virou para a direção do público, olhou para a cadeira de Cacá e disse “esse aí”,<br />

assinalando Cacá com o braço e o indicador estendidos. Antes de indicá-lo, ou quase<br />

concomitantemente, Quique começou a chorar. Também algumas pessoas do público se<br />

puseram a soluçar. Desde meu lugar, senti que alguém falava “que fique podre na<br />

cadeia”. Logo depois, o promotor perguntou como era Santiago. Quique não conteve as<br />

lágrimas e apenas alcançou dizer “o melhor, sempre andávamos juntos”. Passaram<br />

alguns minutos até o defensor iniciar o interrogatório dele.<br />

Também a dona do quiosque e sua filha tinham passado pelo “reconhecimento”.<br />

E também elas indicaram, sem titubeios, o lugar onde Cacá estava sentado. “É esse<br />

menino”, disse a dona do quiosque.<br />

Promotor: havia muito tempo que conhecia Santiago?<br />

Dona do quiosque: ele se criou no bairro.<br />

Promotor: qual conceito tinha dele?<br />

Dona do quiosque, após segundos de silêncio: o melhor, gente boa, tinha<br />

projetos, seu hábito era comprar a Coca-Cola, cigarros, eu perguntava “vai<br />

dançar hoje?”, “não, vou ver um filme com minha namorada porque amanhã<br />

trabalho”. De segunda a segunda trabalhava, tinha projetos. Se eu tivesse visto<br />

alguma coisa, eu estava [interrompe a fala porque chora] .... dentro da casa, não<br />

consegui fazer nada.<br />

Da mesma forma, ao relatar os “fatos” por ela testemunhados, a filha da dona do<br />

quiosque se emocionou. Pediu perdão por estar chorando e o presidente perguntou se<br />

336

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!