01.06.2014 Views

Baixar - Proppi - UFF

Baixar - Proppi - UFF

Baixar - Proppi - UFF

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Acompanhava os depoimentos, conversava sobre diferentes temas, desde o trabalho,<br />

música até as possíveis férias deles no Brasil. Um dos temas que frequentemente<br />

ingressava em nossas conversas, quase que inadvertidamente, era saldar, ou tentar<br />

saldar, as dúvidas deles sobre o que eu fazia na UFI. “Você vem nos feriados!” “hoje é<br />

domingo, que é que está fazendo aqui?!”, me perguntavam surpresos diante da<br />

obrigação deles de estarem de manhã cedo naqueles dias. No entanto, mais do que essa<br />

minha presença em dias “não úteis”, aquilo que mais os intrigava era o que, “diabos”,<br />

seria aquilo que eu escrevia no meu caderno.<br />

O caderno de campo<br />

Mais ou menos convencidos de que observar podia ser também uma forma de<br />

‘fazer’ alguma coisa, os caminhos na UFI, como antropóloga, foram se abrindo. Houve<br />

mais uma característica de meu trabalho como etnógrafa que tive que superar neste<br />

processo de progressiva confiança. “Não sei o quê, mas ela anota e anota o tempo todo”,<br />

disse Alicia ao me apresentar para uma colega de outra UFI, como a antropóloga que os<br />

estava acompanhando. Meu caderno de campo era motivo de intriga não só de Alicia e<br />

dos “meninos”, mas também de outros integrantes da UFI. Pensei que a forma mais<br />

fácil de superar essa intriga, para que não virasse suspeita, era conversar sobre minhas<br />

anotações. “Anoto sobre os casos, anoto o que as pessoas depõem, anoto o que vocês<br />

perguntam, anoto o que registram por escrito, quando leio processos anoto parte dos<br />

depoimentos e da seqüência dos procedimentos, anoto os casos antigos que vocês me<br />

contam, anoto as explicações que vocês me dão sobre questões jurídicas”.<br />

Alicia Diaz era uma excelente explicadora para minhas dúvidas jurídicas.<br />

Gostava muito da docência e era a única na UFI que dava aulas em uma Universidade.<br />

Um policial de investigações que trabalhava vários processos com ela deu uma boa<br />

definição de Alicia: “a Dra. Diaz é elétrica”, disse. Como mencionei, ocupava o cargo<br />

de instrutora, mas também fazia inúmeras tarefas administrativas. Antes de fazer o curso<br />

de instrutora, tinha trabalhado vários anos na justiça civil, onde, segundo ela, tinha<br />

ganho experiência na burocracia judicial (redigir ofício para tudo, fazer solicitações,<br />

etc). Alicia chegava bem cedo à UFI e era das últimas a ir embora. Enquanto<br />

permanecia, ia e vinha pelo corredor inúmeras vezes. Tinha organizado os processos sob<br />

sua responsabilidade em diferentes pilhas: os urgentes (com prazos e presos), os<br />

atrasados e os novos (do plantão). Para Alicia eram enviados muitos casos de homicídio<br />

128

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!