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Baixar - Proppi - UFF

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Carlos: não, porque nunca tive a experiência.<br />

Alicia: mas o senhor tem mais filhos!!!<br />

Carlos: sim, mas não gêmeos e não prematuros.<br />

Logo desde o início do depoimento, também Valeria começou a intervir,<br />

formulando perguntas. A forma de perguntar, ainda mais do que no caso de Marisa,<br />

parecia ter respostas prontas, já que as perguntas giravam em torno dos mesmos pontos<br />

já respondidos por Marisa e as testemunhas. O certo é que era a oportunidade de Carlos<br />

colocar ‘sua’ versão sobre o acontecido. Aliás, disso, e não da “veracidade” de seus<br />

ditos, tratava o depoimento do “imputado”. Como vimos no Capítulo 4, a credibilidade,<br />

ou não, aos olhos dos funcionários do que ele dissesse dependia de diversas variáveis<br />

das quais a comprovação de seus ditos era apenas um aspecto.<br />

Valeria: o senhor lhe dava dinheiro [a Marisa]?<br />

Carlos: sim, duas vezes por semana, mas Marisa sempre tinha um dinheiro<br />

guardado.<br />

Valeria: ah, sim? Porque do processo isso não surge.<br />

Carlos: a senhora diz como se não acreditasse em mim...<br />

Valeria: é que do processo surge outra coisa. O senhor também tinha um filho<br />

desnutrido e não se deu conta.<br />

Carlos: porque eu não tive a experiência, mas a senhora é como que não acredita<br />

em mim.<br />

Valeria: o senhor me diga o que quiser que eu o escuto, mas não me peça que<br />

acredite no senhor.<br />

Carlos: mas pergunte o que a senhora quiser...<br />

Valeria: sim, depois lhe pergunto, agora a doutora [por Alicia] está escrevendo.<br />

O tom de Valeria tinha sido rígido. Carlos manteve um tom calmo, ou melhor,<br />

tímido e apagado. Diferente de Marisa, que respondia à defensiva, confrontando com as<br />

perguntas de Alicia e Valeria, e também com os ditos de outras testemunhas. Carlos<br />

estava preocupado com a impressão que causara em Valeria, queria que ela acreditasse<br />

nele, e dizia-se seguro de não ter nada a ocultar. As perguntas, entre Alicia e Valeria,<br />

pulavam de um tema a outro: do cuidado das crianças, ao dinheiro ganho e entregue, do<br />

comportamento dos bebês e a atenção aos outros filhos à limpeza da casa. Este último<br />

ponto foi se tornando chave na avaliação da responsabilidade dos “imputados”.<br />

Alicia: de limpar a casa se encarrega...<br />

Carlos: Marisa, sim, ela não passa bem a roupa, mas lava muito bem. Eu sei,<br />

quando foram me buscar [os policiais], me disseram “você precisa de água e<br />

sabonete”. Mas a avó também suja e é Marisa que vai atrás limpando. Foi<br />

fumigado um monte de vezes, mas os bichos nem sei de onde é que eles saem.<br />

Valeria: e o mau cheiro?<br />

Carlos: é porque não fica aberto por causa da avó.<br />

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