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Baixar - Proppi - UFF

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“Do jeito dela, ela limpava”, disse a cunhada para uma Valeria completamente incrédula<br />

em função do que ela própria também tinha ‘visto’ na casa. Os critérios de limpeza, de<br />

alimentação e de cuidado não podiam ser consensuados, nem eram universalizáveis.<br />

Valeria já tinha percebido isso com o depoimento de Carlos –“seguramente tenhamos<br />

conceitos de limpeza diferentes”. Esses critérios e sua legitimação ficavam novamente<br />

em questão com os relatos das testemunhas. Diante de tais diferenças, a validação dos<br />

testemunhos corria outra vez da ênfase no que as testemunhas viam para aquilo que<br />

opinavam sobre Marisa e seu comportamento. Assim, uma forma disponível para<br />

estabelecer critérios era reforçar as opiniões, não sobre o que Marisa fazia ou deixava de<br />

fazer, mas sobre uma avaliação da sua personalidade.<br />

Ao dar por terminado o depoimento da cunhada, Alicia leu a ata para ela.<br />

Havendo concordância, a imprimiu e pediu para a senhora assinar. Quando já estava<br />

saindo, a cunhada acrescentou:<br />

Cunhada: o que eu acho é que para eles dois [Carlos e Marisa] é ele que está<br />

primeiro e só depois a casa e as crianças. Eu não sei se é por medo, por<br />

submissão, ou porque o idealizava...<br />

Alicia: isso aí a gente não escreveu!<br />

Cunhada: é que a senhora me dizia que eu respondesse o que me perguntava.<br />

[Alicia reabriu o arquivo, acrescentou essa última frase e imprimiu a última<br />

página que devia ser novamente assinada. Enquanto isso a cunhada continuou<br />

falando com Valeria].<br />

Cunhada: agora que eu vejo tantas fotos [durante vários momentos do<br />

depoimento, eu percebi que a cunhada olhava para as fotos que Alicia tinha<br />

abaixo do vidro da mesa de trabalho; eram fotos variadas, algumas delas com<br />

crianças, em especial os sobrinhos de Alicia] me dou conta que eles não têm<br />

fotos das crianças.<br />

Valeria: essa menina é um pouco patológica...<br />

Cunhada: tomara que saia tudo bem para as crianças; que possam estar com a<br />

mãe.<br />

Valeria: sim, não sei se com a mãe é o melhor.<br />

Cunhada: eu digo que ela receba um tratamento.<br />

Valeria: eu não sou psicóloga, sou promotora, então, não me une o afeto com ela<br />

e vou fazer o que seja mais justo.<br />

Reabrir a ata para incluir a frase sobre as prioridades familiares –“ele que está<br />

primeiro e só depois a casa e as crianças”- reforçava o interesse por entender qual era a<br />

dinâmica familiar e, assim, estabelecer responsabilidades. Tais responsabilidades<br />

deviam ser avaliadas em função de certos parâmetros. Na sua resposta à cunhada,<br />

Valeria marcava uma distinção clara entre o “afeto” e a “justiça”. Ela, como promotora,<br />

devia ser “justa”. As testemunhas e outros profissionais –“eu não sou psicóloga”-<br />

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