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Baixar - Proppi - UFF

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seguiram reforçaram aquele papel dos “vizinhos” como fonte de ajuda e como fonte de<br />

informações.<br />

A cunhada de Marisa fez um longo depoimento, seguindo as perguntas de<br />

Alicia e Valeria. Ela se apresentou dois dias depois do “allanamiento”, tal como tinha<br />

combinado de palavra com Alicia. Tanto ela como Valeria fizeram várias perguntas<br />

sobre o cuidado que Marisa dedicava às crianças, à casa, à preparação da comida, bem<br />

como sobre Carlos e seu relacionamento com Marisa. Em alguns trechos sobre estes<br />

assuntos, apareciam os “vizinhos” como protagonistas dessa trama de relações.<br />

(...) Alicia: ela [Marisa] cuida de seu aspecto pessoal?<br />

Cunhada: não, nunca, desde os dezessete anos. Ela fica aí esperando por nós,<br />

eram os vizinhos que lhe levavam comida, é assim.<br />

Alicia: isso antes de se juntar com esse senhor?<br />

Cunhada: antes, antes. Quando minha sogra [a senhora Lar] ficou sem emprego<br />

ela não saiu a procurar trabalho. Todos os vizinhos a chamavam.<br />

Alicia: que vizinhos?<br />

Cunhada: todos os vizinhos.<br />

Alicia: algum nome?<br />

Cunhada: Ana, outros. Como são vizinhos dela, não sei os nomes.<br />

A cunhada contou como se conheceram Marisa e Carlos e continuou contando<br />

que ele era separado de outro casamento e que a separação foi porque a outra mulher<br />

cuidava bem da casa e dos filhos, mas não dele. Também relatou que, em uma ocasião,<br />

Carlos e Marisa ficaram separados por um mês:<br />

Cunhada: uma vez ele foi embora e não voltou mais. Foi embora e não deixou<br />

nem um peso. Aí se revolucionou a vizinhança toda de novo, Silvia, todos, todos<br />

lhe levavam comida de novo.<br />

Alicia: ele lhe dava dinheiro?<br />

Cunhada: ele que manejava o dinheiro, dava-lhe dez, quinze pesos. Os vizinhos<br />

ficavam com raiva dela pedir porque viam que ele estava ótimo, com celular,<br />

arrumado. Eles [os vizinhos] são gente boa, mas estão cansados. Quando está<br />

com ele, ela fica calada. Eu estou pensando assim: a mãe verdadeira dela teve<br />

treze filhos e deu todos [em adoção] e eu vejo que ela tem como um<br />

ressentimento, alguma coisa que leva dentro dela. Para mim precisa de um<br />

tratamento psicológico.<br />

Valeria: e sim… é uma menina abandonada que abandona seus filhos.<br />

Cunhada: eu vejo como que ela não gosta de ninguém, nunca a vejo agradecer<br />

coisa nenhuma. Todos os vizinhos os ajudaram, eu não entendo por que ela não<br />

é agradecida pelos vizinhos, porque tudo o mundo ajudou ela, os vizinhos só<br />

quiserem ajudar.<br />

Chamou-me a atenção, nestes trechos do depoimento da cunhada, o fato dela se<br />

referir aos “vizinhos” como os “vizinhos dela”, motivo para justificar o fato de não<br />

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