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Baixar - Proppi - UFF

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advogado, a dedução dos juízes ou dos promotores seria que foi induzida a apresentar<br />

uma versão “armada” e não o que “verdadeiramente” tinha visto ou ouvido. A suspeita<br />

sobre o papel do defensor recaía na credibilidade da testemunha e os advogados não<br />

pareciam dispostos a correr esse risco, procurando eles mesmos as testemunhas.<br />

Deixavam isso com os familiares. No caso da defensora oficial, ela ainda opinava que<br />

havia certos mecanismos, como induzir uma testemunha, que um advogado particular<br />

“podia se dar o luxo de utilizar”, mas não um defensor público que intervinha sempre<br />

com os mesmos juízes e promotores. Essas posições não querem dizer que advogados<br />

ou defensores não induzissem o relato das testemunhas, mas que o faziam com aquelas<br />

que seu cliente ou os familiares dele garantiam um grau de confiança e compromisso<br />

suficientes para não colocar em risco a sua credibilidade.<br />

Durante o mês de janeiro, um dos processos trabalhados por Valeria foi o caso<br />

do posto de gasolina, no qual o segurança estava imputado de matar o jovem Angel Paz.<br />

Uma manhã, Zé anunciou que a mãe de Angel estava na “Mesa de Entradas”. A<br />

conversa entre Valeria e ela durou duas horas. Ela tinha lido o processo e queria saber<br />

se o autor do disparo contra o filho dela ia depor. A preocupação da senhora era<br />

desmentir que seu filho, ao ser morto, estava roubando e com uma arma.<br />

(…) Valeria: a senhora me dizia que seu filho ia ao ponto de ônibus do posto<br />

para buscar trabalho. Ele ia sozinho?<br />

Mãe: sim, há um garoto que o conhecia, que foi ao velório, e disse que não viu<br />

nada estranho, apenas uma viatura, que meu filho foi algemado e que não estava<br />

ferido.<br />

Valeria: não, aí lhe estão mentindo porque isso está provado. Cuidado com o que<br />

falam as pessoas. Que venha me dizer isso a mim. A senhora tem o nome?<br />

Mãe: sim, eu trago para a senhora. Outra coisa que tenho que lhe dizer. Uma<br />

pessoa conhecida que faz diálise disse que viu meu filho ferido. Ele é o filho de<br />

minha comadre e disse que, se eu quisesse, ele vinha dizer isso aqui, porque o<br />

viu ensangüentado. Eu pensava que deveria ter tirado uma foto dele no caixão.<br />

Valeria: não precisa, mas sabe o que eu preciso é que essas pessoas que viram<br />

alguma coisa venham aqui. Porque há uma delas que me parece que não diz a<br />

verdade, mas qualquer coisa que estejam dizendo eu gostaria de ouvir.<br />

Mãe: sim, eu lhe trago. Meu outro filho não quer vir mais porque está muito mal,<br />

mas eu falo com ele para que averigúe, vá ao local e pergunte.<br />

Valeria: sim, se houver algum vizinho que o conheça e tenha visto alguma<br />

coisa....<br />

Mãe: tem um vizinho que viu, mas agora me evita porque deve pensar que eu<br />

estou mal. Eu vou mandar meu filho que é remisero para que o busque. Mas se a<br />

senhora o citar, ele vai vir.<br />

Valeria: se o senhor tiver boa vontade eu evito mandá-lo buscar pela polícia.<br />

Mãe: eu venho cedo com ele. Eu vou trazer uma foto de meu filho para que veja<br />

o doce de pessoa que era. Eu lhe falo com o coração. Ele se drogava e tinha suas<br />

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