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Desafios para a superação das desigualdades sociaiscontexto histórico quanto do contexto literário, especialmente se pensarmos na maneira com queapresentam a figura da personagem central:138(...) as leituras feitas por Paulo Thiago e Luiz Marfuz enfatizam não a construçãodiscursiva do romance como um todo, mas especificamente o discurso dapersonagem central, traduzindo apenas uma parte da obra, talvez a mais superficial.Isso conduz à estabilização do sentido menos problematizador do romance, poisparece mitificar a pátria, conceito que o romance, longe de referendar, problematiza.Parece-me que esses leitores (...) não se atentaram para a reflexão final do MajorQuaresma, quando às vésperas da morte, o discurso ufanista cede em face àbrutalidade de um conceito vazio, pois como ele próprio conclui: ‘a pátria quequisera ter era um mito: era um fantasma criado por ele no silêncio do seu gabinete’.Justamente aí é que está o problema em “substituir” o livro pelo filme, como muitas vezesacontece. Essa ênfase maior de Thiago na personagem central e não no contexto geral da obra(apontada por Sena), acaba por tornar “positivo”, de certa forma, o ufanismo e o caráter exagerado epatético da personagem central. O próprio subtítulo do filme (“Herói do Brasil”) ressalta esse aspecto.Na verdade, Lima Barreto queria mostrá-lo como uma caricatura, uma espécie de “anti-herói”, um“Dom Quixote” brasileiro, deslocado da realidade, mostrando esse caráter “negativo” da postura deQuaresma, de forma bastante crítica. Substituir o livro pelo filme aqui não funciona. É preciso pensarem ambas as obras como complementares, para compreender a visão que cada um dos autores (Barretoe Thiago) tem do objeto em estudo.Além disso, Thiago, apesar de distorcer (segundo Sena) essa visão mais crítica do romance,não deixa de trazer, por outro lado, alguns elementos cinematográficos importantes para uma melhorcompreensão do espectador sobre o contexto literário e histórico da obra. Trata-se, por exemplo, depensar na contribuição das canções de Carlos Lyra e Paulo César Pinheiro e das caricaturas de PauloCaruso, uma forma encontrada pela equipe do filme para fazer o espectador “adentrar” no “universo”do romance de Lima Barreto e também no contexto histórico da 1ª República no Brasil. Aqui vemos aimportância de se conhecer um pouco as questões da linguagem cinematográfica, para perceber de quemaneira esses elementos ou ferramentas de sua “gramática” própria podem contribuir para uma análisemais aprofundada do filme e dos temas por ele abordados.O caso do desenho-animado “Hércules” (1997), dos Estúdios Disney, também é interessante.Numa aula sobre mitologia grega, por exemplo, trabalhar as aventuras de Hércules apenas a partir dofilme pode ser desastroso, especialmente porque o desenho subverte uma das questões-chave para secompreender as narrativas mitológicas do herói grego. No filme, Hércules é filho de Zeus com suaesposa Hera, sendo perseguido por Hades, o deus das profundezas, por assim dizer. Ocorre que, nomito (incluindo aí as suas variantes, que não são poucas), Hércules (em grego Héracles) é fruto de umadas tantas infidelidades de Zeus. Seu próprio nome, “Heracles”, significa “glória de Hera”, suamadrasta, portanto, que, na verdade, é quem provoca toda a perseguição ao herói, que acaba sendosempre protegido pelo pai. Uma análise em contraponto das versões do mito e do filme pode ser muitointeressante para se pensar até mesmo em questões mercadológicas do cinema. Ou seja: num filmedestinado prioritariamente a crianças, talvez não soasse bem colocar o herói como fruto da infidelidadedo pai, sendo necessário demarcar objetivamente o “bem” e o “mal”, personificado, então, por Hades.A existência de uma versão diferente (no mito e no filme) também poderia suscitar o debate sobre asvariantes das narrativas mitológicas em geral e mesmo da própria literatura, cuja origem é a oralidade.E mais: há outras questões do filme que poderiam ser discutidas, como, por exemplo, a “fusão” dealgumas personagens mitológicas, como as bruxas gréias e as moiras, que no desenho aparecem comosendo a mesma coisa. Enfim... O debate mais profundo entre mito e filme pode ser produtivo. Agora,apenas substituir um pelo outro seria realmente desastroso do ponto de vista de um conhecimento maisprofundo sobre a mitologia grega.“Caramuru” (2001), filme brasileiro dirigido por Guel Arraes, também pode ser pensado apartir de sua possível utilização nas aulas de Literatura e História. Baseado nas tantas narrativas(literárias, históricas, sociológicas, etc.) construídas ao longo da história brasileira sobre a real e mítica(ao mesmo tempo) figura de Diogo Álvares, um dos primeiros europeus a conviver com os índiostupinambás, a obra, vista por ela mesma, talvez não passe de mero entretenimento para os alunos, seja

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