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O papel dos manuais didáticos e das mídias educativaso nível/série ao qual possamos nos referir. Agora, trata-se de uma obra repleta de intertextos, nãoapenas com a literatura e a história, mas com variados temas de diversas épocas da cultura brasileira.Pode-se pensar, num primeiro momento, no diálogo mais óbvio: com o poema épico “Caramuru”, deSanta Rita Durão, um dos mais conhecidos de nossa literatura árcade. A partir daí, a constantepresença da história de Diogo Álvares e das índias Paraguaçu e Moema em diversos momentos dahistória cultural brasileira pode ser vista a partir do texto de Janaína Amado (1998), que faz um resgatehistórico muito competente sobre o tema. Como afirma a autora:O mito do Caramuru, tecido ao longo de séculos, constituído por um núcleo básico –repetido ad infinitum, após fixado pelo Pe. Simão de Vasconcellos, adaptado, comose viu, às sempre novas audiências e demandas, foi várias vezes politicamenteapropriado (...), mas, como a fênix, ressurgiu sempre, renovado e despolitizado,pronto para ser novamente apropriado. É um mito que toca em alguns dos maisimportantes, queridos e afagados componentes da construção das memóriascoletivas de brasileiros e portugueses (AMADO, 1998, p. 45-46).Um diálogo mais profundo ainda, que inclua também os elementos cinematográficos como umtempero interdisciplinar a mais, pode ser pensado a partir do texto de Lenita Esteves (2007), que emseu texto faz uma leitura comparativa entre o poema épico de Santa Rita Durão e a obra de GuelArraes, pensando também em uma série de elementos intertextuais presentes no filme. E assim, nesseamplo jogo intertextual, quem ganha são alunos e professores, pois a interdisciplinaridade acontece demaneira efetiva na prática. Agora, mais uma vez o que se conclui é que simplesmente “substituir” oCaramuru histórico e literário pelo filme é algo que não funciona, resultando numa análise um tantosimplista e superficial.Por fim, a importância de se conhecer elementos básicos da gramática cinematográfica ficaevidente quando se pretende analisar um filme como “Gregório de Mattos” (2002), de Ana Carolina.Trata-se de uma cinebiografia do poeta baiano, que no filme é interpretado pelo maldito” (tanto quantoGregório, e no melhor sentido que a palavra pode ter) Waly Salomão. A proposta da diretora não éapenas fazer um filme sobre o barroco. Além disso, a própria linguagem do filme é barroca. Não há,como nas cinebiografias e documentários tradicionais, um narrador que conta a vida do poeta,entremeada com trechos de sua obra literária, como acontece em filmes como “Vinícius” (2005), deMiguel Faria Jr., sobre Vinícius de Moraes, ou “O Poeta de Sete Faces” (2002), de Paulo Thiago,sobre Carlos Drummond de Andrade, por exemplo. O filme é pura poesia. Praticamente todo ele é aprópria poesia de Gregório de Mattos sendo “despejada” (o termo é esse mesmo) no espectador, talcomo a “boca do inferno” do poeta fazia no século XVII em locais públicos da capital baiana. E esse“despejar” de poesia é feito sem maiores explicações, com quebra de linearidade, com uma câmeraque se mexe abruptamente; as freiras do filme ora são santas e ora são devassas, tal como a própriainstabilidade e indecisão barrocas. Até na fotografia do filme a indecisão barroca entre fé e razão estápresente: o filme não é nem colorido nem preto e branco, mas em tonalidade sépia, ou seja, numaespécie de “entre-lugar” do que normalmente se vê no cinema. Portanto, para compreender a propostaestética de Ana Carolina, é preciso compreender os mecanismos puramente cinematográficos que elamanipula tendo em vista a construção de uma linguagem barroca para retratar com maior perfeição avida e a obra de nosso maior poeta barroco do século XVII.4 CONSIDERAÇÕES FINAISEstas rápidas reflexões não tiveram nenhuma pretensão no sentido de apontar caminhosdefinitivos para a resolução dos problemas pertinentes à utilização do cinema em sala de aula. O quese quis foi apenas apontar algumas questões fundamentais, de natureza teórico-prática, a partir dasquais se pode pensar em algumas soluções. Essas soluções passam, não tenho a menor dúvida, pelanecessidade de uma formação adequada, para professores e alunos, com relação a conhecimentosmínimos sobre a “gramática” cinematográfica, além de uma revisão da idéia corrente de que o “livro”(códice) ou o texto escrito é a forma mais legítima para a formação cultural das pessoas. É preciso139

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