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Relatório Azul 2011 - Assembléia Legislativa

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pobreza. Agora, quando eu vejo aqueles lugares da África, lembro perfeitamentedo lugar em que morei naquela época de operária.Então, aprendi muito. Logo que eu entrei na fábrica, fiz o teste [de seleção] –que a gente sabia que tinha que errar algumas coisas – e em seguida fui admitida.Eu sempre consegui emprego com facilidade nas fábricas.Precisava me adaptar, daí que me emprestaram roupas, me fizeram tingir ecortar o cabelo. Um cabelinho bem curto – como homem assim – sem pinturanenhuma. Aí quando eu chego lá com as meninas, as operárias, eu conto “a nossahistória de vida”, que eu era recém-casada, que estávamos chegando do interior,aquela historinha. E aí foi ótimo! Porque as operárias me disseram, na hora determinar o turno de trabalho: “Tu não vai ir ver o teu marido desse jeito, não é?Não, não! Vou ensinar a te pintar!”. (risos) E então usavam batonzinho, maquiageme diziam: “Olha, você poderia, no teu primeiro salário, comprar umas roupinhasassim, um pouco mais… Para ficar mais bonitinha, pois você vai se encontrarcom o seu marido”. (risos) Eu achei ótimo! (risos) Mas foi muito bom! Tive umarelação ótima com essas meninas. Porque elas me ensinaram tudo. Como é quemarcava o ponto, como é que ficava ali, como é que ia ao banheiro… tudo! Eu nãoconhecia o jeito de pensar, de viver, de conviver com as coisas daquele cotidiano.Lá, cada dia morria um bebê. Nunca tinha visto morrer bebê na minha vida! Aíelas enterravam e no outro dia estavam trabalhando. A sensibilidade das operáriasmudou meus valores, deu flexibilidade para enxergar o mundo, compreender avida, encarar a morte. A morte ali fazia parte do cotidiano.7.3 A VINDA PARA O SUL E O HORRORFoi nesse momento que ocorreu uma nova mudança. A repressão políticadesarticulara as organizações e a AP precisava ser reconstruída no Rio Grande doSul. Vários trabalhos tinham que ser reconstruídos, pois muitos companheirostinham sido presos. Então, pediram para virmos para cá. Quem vinha mesmo erameu marido e eu vim por ser sua mulher. Fiquei furiosa! Era uma situação típica daépoca e valia o mesmo para a militância clandestina. E eu vim, de arrasto, mas vim.Quando cheguei, fui de novo para a fábrica. Precisávamos ganhar nossasvidas. Eu era operária, então fui trabalhar, receber salário, me sustentar. Então,além do trabalho profissional, tinha a ação política para ser feita. Precisava fazer7 - NILCE AZEVEDO CARDOSO: RELEMBRAR É PRECISO - Solon Eduardo A. Viola e Thiago V. Pires155

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