14.04.2017 Views

Manual de Direito Civil - Flávio Tartuce - 7ª Ed. - 2017

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Civil</strong><br />

que o fiduciário tem a proprieda<strong>de</strong> restrita e resolúvel da herança ou legado. Isso porque o bem<br />

permanece inicialmente com o fiduciário. Entretanto, ocorrendo o termo ou a condição, a proprieda<strong>de</strong> é<br />

transmitida ao fi<strong>de</strong>icomissário. Ato contínuo, o fiduciário é obrigado a proce<strong>de</strong>r ao inventário dos bens<br />

gravados, e a prestar caução <strong>de</strong> restituí­los se o exigir o fi<strong>de</strong>icomissário.<br />

Por outra via, também em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong>ssa sua estrutura, caduca ou <strong>de</strong>cai o fi<strong>de</strong>icomisso se o<br />

fi<strong>de</strong>icomissário morrer antes do fiduciário (premoniência), ou antes <strong>de</strong> realizar­se a condição resolutória<br />

do direito <strong>de</strong>ste último. Em casos tais, dispõe o art. 1.958 do CC que a proprieda<strong>de</strong> plena será<br />

consolidada em nome do fiduciário.<br />

Em havendo renúncia à herança ou legado pelo fiduciário, salvo disposição em contrário do<br />

testador, <strong>de</strong>fere­se ao fi<strong>de</strong>icomissário o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> aceitar (art. 1.954 do CC). Em casos tais, o<br />

fi<strong>de</strong>icomissário po<strong>de</strong> renunciar à herança ou ao legado, e, neste caso, o fi<strong>de</strong>icomisso caduca, <strong>de</strong>ixando<br />

<strong>de</strong> ser resolúvel a proprieda<strong>de</strong> do fiduciário, se não houver disposição contrária do testador (art. 1.955<br />

do CC). Por outra via, se o fi<strong>de</strong>icomissário aceitar a herança ou o legado, terá direito à parte que, ao<br />

fiduciário, em qualquer tempo acrescer (art. 1.956 do CC). A respeito <strong>de</strong> suas responsabilida<strong>de</strong>s,<br />

ocorrendo a sucessão, o fi<strong>de</strong>icomissário respon<strong>de</strong> pelos encargos da herança que ainda restarem (art.<br />

1.957 do CC).<br />

Enuncia a lei que são nulos os fi<strong>de</strong>icomissos além do segundo grau (art. 1.959 do CC). Desse<br />

modo, não se po<strong>de</strong> nomear um segundo fi<strong>de</strong>icomissário por expressa proibição legal (nulida<strong>de</strong> textual).<br />

Em casos tais, a nulida<strong>de</strong> da substituição ilegal não prejudica a instituição, que valerá sem o encargo<br />

resolutório (art. 1.960 do CC). Em suma, é válido o fi<strong>de</strong>icomisso até a instituição do primeiro<br />

fi<strong>de</strong>icomissário, aplicação direta do princípio da conservação dos negócios jurídicos.<br />

Para encerrar o estudo das substituições e do fi<strong>de</strong>icomisso, cumpre esclarecer o sentido da<br />

expressão substituição compendiosa, conforme consta da obra anterior escrita com José Fernando<br />

Simão, em pesquisa realizada pelo então coautor, a quem se dá mais uma vez os créditos. Para Sílvio<br />

Rodrigues e Itabaiana <strong>de</strong> Oliveira, substituição compendiosa é sinônimo <strong>de</strong> substituição fi<strong>de</strong>icomissária.<br />

Todavia, para Washington <strong>de</strong> Barros Monteiro, Maria Helena Diniz e Sílvio <strong>de</strong> Salvo Venosa, a<br />

substituição compendiosa seria um misto <strong>de</strong> substituição vulgar com substituição fi<strong>de</strong>icomissária. 102<br />

Exemplo citado, para a última corrente doutrinária, que é a que prevalece na contemporaneida<strong>de</strong>: “Deixo<br />

meus bens para João, que transmitirá ao primeiro filho <strong>de</strong> José. Caso João não queira ou não possa<br />

receber, os bens ficarão com José, que <strong>de</strong>verá transmiti­los ao seu primeiro filho”. 103<br />

Da redução das disposições testamentárias<br />

9.9.9<br />

Assim como ocorre com a doação inoficiosa (art. 549 do CC), já estudada, po<strong>de</strong> ser necessária a<br />

redução das disposições testamentária, a fim <strong>de</strong> não se prejudicar a legítima, quota dos her<strong>de</strong>iros<br />

necessários (50% do patrimônio do autor da herança). Insta verificar que o Código em vigor traz regras<br />

diferenciadas em relação ao testamento e à doação, tratada a última no próximo item, referente ao<br />

inventário e à partilha.<br />

Como primeira regra a respeito da redução testamentária, se o testador fizer disposição que rompa<br />

a proteção da legítima, a disposição somente será válida nos limites <strong>de</strong> sua meta<strong>de</strong>. O remanescente<br />

pertencerá aos her<strong>de</strong>iros legítimos, respeitada a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> vocação hereditária (art. 1.966 do CC).<br />

Ilustrando, se alguém faz por testamento a disposição <strong>de</strong> 70% do seu patrimônio, a disposição é válida<br />

apenas em 50%. Em relação aos outros 20%, os bens <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>stinados aos her<strong>de</strong>iros legítimos,<br />

ocorrendo em tal proporção a redução testamentária. Deve ficar bem claro que “o fato <strong>de</strong> o testador ter<br />

extrapolado os limites da legítima não enseja a nulida<strong>de</strong> do testamento, impondo­se tão somente a<br />

redução das disposições testamentárias” (TJRS, Acórdão 70026646075, Erechim, 8.ª Câmara Cível,<br />

Rel. Des. Claudir Fi<strong>de</strong>lis Faccenda, j. 19.03.2009, DOERS 26.03.2009, p. 43). Sintetizando, a redução<br />

não atinge o plano da valida<strong>de</strong> do testamento, mas a sua eficácia.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!