14.04.2017 Views

Manual de Direito Civil - Flávio Tartuce - 7ª Ed. - 2017

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Civil</strong><br />

titular perante a coletivida<strong>de</strong>. Um existe em <strong>de</strong>corrência do outro. Cuida­se <strong>de</strong> conceitos<br />

complementares e comunicantes que precisam ser apartados, pois em várias situações o<br />

proprietário – <strong>de</strong>tentor da titularida<strong>de</strong> formal – não será aquele que exerce o domínio (v.g.,<br />

usucapião antes do registro; promessa <strong>de</strong> compra e venda após a quitação). Veremos adiante<br />

que a proprieda<strong>de</strong> recebe função social, não o domínio em si”. 49<br />

Como se po<strong>de</strong> notar, os conceitos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> domínio são muito próximos, não se<br />

justificando, metodologicamente, as diferenciações expostas pelos juristas contemporâneos. E, como o<br />

Código <strong>Civil</strong> <strong>de</strong> 2002 adota o princípio da operabilida<strong>de</strong>, em um primeiro sentido <strong>de</strong> facilitação do<br />

<strong>Direito</strong> Privado, não há razões para a distinção.<br />

Principais características do direito <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong><br />

7.4.2<br />

A proprieda<strong>de</strong>, como direito real por excelência, tem características muito próximas dos direitos<br />

reais expostos no início do capítulo. Vejamos tais caracteres, à luz da melhor doutrina, clássica e<br />

contemporânea, consultada para a composição <strong>de</strong>ste livro:<br />

a)<br />

b)<br />

c)<br />

d)<br />

e)<br />

f)<br />

<strong>Direito</strong> absoluto, em regra, mas que <strong>de</strong>ve ser relativizado em algumas situações – ficou claro<br />

que a proprieda<strong>de</strong> é o mais completo dos direitos reais. Diante do seu caráter erga omnes, ou<br />

seja, contra todos, é comum afirmar que a proprieda<strong>de</strong> é um direito absoluto. Também no<br />

sentido <strong>de</strong> certo absolutismo, o proprietário po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sfrutar da coisa como bem enten<strong>de</strong>r. Porém,<br />

existem claras limitações dispostas no interesse do coletivo, caso da função social e<br />

socioambiental da proprieda<strong>de</strong> (art. 1.228, § 1.º, do CC). Além disso, não se po<strong>de</strong> esquecer a<br />

comum coexistência <strong>de</strong> um direito <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> frente aos outros direitos da mesma espécie,<br />

nos termos do art. 1.231 do CC, pelo qual se admite a prova em contrário da proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminada pessoa. A proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser relativizada se encontrar pela frente um outro<br />

direito fundamental protegido pelo Texto Maior. Por isso é que se po<strong>de</strong> dizer que a proprieda<strong>de</strong><br />

é um direito absoluto, regra geral, mas que po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve ser relativizado em muitas situações.<br />

<strong>Direito</strong> exclusivo – <strong>de</strong>terminada coisa não po<strong>de</strong> pertencer a mais <strong>de</strong> uma pessoa, salvo os casos<br />

<strong>de</strong> condomínio ou coproprieda<strong>de</strong>, hipótese que também não retira o seu caráter <strong>de</strong><br />

exclusivida<strong>de</strong>. 50 Isso justifica a presente característica, a ser retirada do art. 1.231 do CC, pelo<br />

qual a proprieda<strong>de</strong> presume­se plena e exclusiva, salvo prova ou previsão em contrário<br />

(presunção relativa ou iuris tantum). É correto afirmar que, apesar <strong>de</strong> ser um direito exclusivo,<br />

a proprieda<strong>de</strong> envolve interesses indiretos <strong>de</strong> outras pessoas, e até <strong>de</strong> toda a socieda<strong>de</strong>, que<br />

almejam o atendimento à sua função social.<br />

<strong>Direito</strong> perpétuo – o direito <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> permanece in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do seu exercício,<br />

enquanto não houver causa modificativa ou extintiva, sejam elas <strong>de</strong> origem legal ou<br />

convencional. A proprieda<strong>de</strong>, por tal característica, po<strong>de</strong> ser comparada a um motor em<br />

constante funcionamento, que não para, em regra (moto contínuo), a não ser que surja um fato<br />

novo que interrompa o seu funcionamento.<br />

<strong>Direito</strong> elástico – característica que é atribuída, na doutrina nacional, a Orlando Gomes, a<br />

proprieda<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser distendida ou contraída quanto ao seu exercício, conforme sejam<br />

adicionados ou retirados os atributos que são <strong>de</strong>stacáveis. 51 Na proprieda<strong>de</strong> plena, o direito se<br />

encontra no grau máximo <strong>de</strong> elasticida<strong>de</strong>, havendo uma redução nos direitos reais <strong>de</strong> gozo ou<br />

fruição e nos direitos reais <strong>de</strong> garantia.<br />

<strong>Direito</strong> complexo – por tudo o que está sendo exposto, a proprieda<strong>de</strong> é um direito por <strong>de</strong>mais<br />

complexo, particularmente pela relação com os quatro atributos constantes do caput do art.<br />

1.228 do CC.<br />

<strong>Direito</strong> fundamental – não se po<strong>de</strong> esquecer que a proprieda<strong>de</strong> é um direito fundamental, pelo<br />

que consta do art. 5.º, XXII e XXIII, da Constituição Fe<strong>de</strong>ral. Esse caráter faz que a proteção

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!