14.04.2017 Views

Manual de Direito Civil - Flávio Tartuce - 7ª Ed. - 2017

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

– Teoria subjetiva ou subjetivista – Seu principal i<strong>de</strong>alizador foi Friedrich Carl von Savigny, enten<strong>de</strong>ndo a posse como<br />

1.ª<br />

po<strong>de</strong>r direto que a pessoa tem <strong>de</strong> dispor fisicamente <strong>de</strong> um bem com a intenção <strong>de</strong> tê-lo para si e <strong>de</strong> <strong>de</strong>fendê-lo contra<br />

o<br />

intervenção ou agressão <strong>de</strong> quem quer que seja. A posse, para essa teoria, possui dois elementos: a) o corpus –<br />

a<br />

material ou objetivo da posse, constituído pelo po<strong>de</strong>r físico ou <strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> sobre a coisa; b) animus<br />

elemento<br />

elemento subjetivo, caracterizado pela intenção <strong>de</strong> ter a coisa para si, <strong>de</strong> exercer sobre ela o direito <strong>de</strong><br />

domini,<br />

Diante do segundo elemento, para essa teoria, o locatário, o comodatário, o <strong>de</strong>positário, entre outros, não<br />

proprieda<strong>de</strong>.<br />

possuidores, pois não há qualquer intenção <strong>de</strong> tornarem-se proprietários. Em regra, essa teoria não foi adotada pelo<br />

são<br />

até porque as pessoas elencadas por último são consi<strong>de</strong>radas possuidores. A teoria subjetiva da posse somente<br />

CC/2002<br />

relevância na usucapião, como se verá adiante.<br />

ganha<br />

– Teoria objetiva ou objetivista – Teve como principal expoente Rudolf von Ihering, sendo certo que para a<br />

2.ª<br />

da posse basta que a pessoa disponha fisicamente da coisa, ou que tenha a mera possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exercer<br />

constituição<br />

contato. Esta corrente dispensa a intenção <strong>de</strong> ser dono, tendo a posse apenas um elemento, o corpus, como<br />

esse<br />

material e único fator visível e suscetível <strong>de</strong> comprovação. O corpus é formado pela atitu<strong>de</strong> externa do<br />

elemento<br />

em relação à coisa, agindo este com o intuito <strong>de</strong> explorá-la economicamente. Para esta teoria, <strong>de</strong>ntro do<br />

possuidor<br />

<strong>de</strong> corpus está uma intenção, não o animus <strong>de</strong> ser proprietário, mas <strong>de</strong> explorar a coisa com fins econômicos. A<br />

conceito<br />

<strong>de</strong> Ihering acabou por prevalecer sobre a <strong>de</strong> Savigny na Alemanha, estabelecendo o § 854 do BGB Alemão que a<br />

teoria<br />

<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Civil</strong><br />

obrigados a respeitá­lo. Só os direitos reais têm essa virtu<strong>de</strong>. Verda<strong>de</strong> é que os interditos se<br />

apresentam com certas qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ação pessoal, mas nem por isso influem sobre a natureza<br />

real do jus possessionis”. 15<br />

O presente autor está filiado à corrente pela qual a posse é um direito <strong>de</strong> natureza especial, o que<br />

po<strong>de</strong> ser retirado da teoria tridimensional do <strong>Direito</strong>, <strong>de</strong> Miguel Reale. Isso porque a posse é o domínio<br />

fático que a pessoa exerce sobre a coisa. Ora, se o <strong>Direito</strong> é fato, valor e norma, logicamente a posse é<br />

um componente jurídico, ou seja, um direito.<br />

Vale dizer que há entendimento doutrinário pelo qual a posse constitui um direito real propriamente<br />

dito, como <strong>de</strong>sdobramento natural da proprieda<strong>de</strong>, caso <strong>de</strong> Maria Helena Diniz. 16<br />

Pois bem, duas gran<strong>de</strong>s escolas ou correntes clássicas procuraram justificar a posse como categoria<br />

jurídica. Vejamos:<br />

posse <strong>de</strong> uma coisa adquire-se mediante a obtenção do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> fato sobre ela.<br />

Entre as duas teorias, é forçoso concluir que o CC/2002, a exemplo do seu antecessor, adotou<br />

parcialmente a teoria objetivista <strong>de</strong> Ihering, pelo que consta do seu art. 1.196. Enuncia tal comando<br />

legal: “Consi<strong>de</strong>ra­se possuidor todo aquele que tem <strong>de</strong> fato o exercício, pleno ou não, <strong>de</strong> algum dos<br />

po<strong>de</strong>res inerentes à proprieda<strong>de</strong>”. Em suma, basta o exercício <strong>de</strong> um dos atributos do domínio para que<br />

a pessoa seja consi<strong>de</strong>rada possuidora. Ilustrando, o locatário, o usufrutuário, o <strong>de</strong>positário e o<br />

comodatário são possuidores, po<strong>de</strong>ndo fazer uso das ações possessórias. Pela atual codificação privada,<br />

po<strong>de</strong>­se dizer que todo proprietário é possuidor, mas nem todo possuidor é proprietário.<br />

Percebe­se que pelo conceito objetivo adotado pelo comando legal a posse po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sdobrada em<br />

direta e indireta. Em suma, não há necessariamente domínio material na posse, po<strong>de</strong>ndo essa <strong>de</strong>correr<br />

<strong>de</strong> mero exercício <strong>de</strong> direito. Como primeira ilustração, no caso <strong>de</strong> contrato <strong>de</strong> locação, as duas partes<br />

envolvidas são possuidoras. O locatário é possuidor direto, tendo a coisa consigo; o locador proprietário<br />

é possuidor indireto, pelos direitos que <strong>de</strong>correm do domínio.<br />

Além das pessoas naturais e jurídicas, os entes <strong>de</strong>spersonalizados po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados<br />

possuidores. Nesse sentido, o Enunciado n. 236, da III Jornada <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Civil</strong>, prevendo que se<br />

consi<strong>de</strong>ra possuidor, para todos os efeitos legais, também a coletivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong><br />

jurídica. Assim, po<strong>de</strong>m ser possuidores o espólio, a massa falida, a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> fato e o condomínio,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!