14.04.2017 Views

Manual de Direito Civil - Flávio Tartuce - 7ª Ed. - 2017

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

imóvel <strong>de</strong>ve ser utilizado para subsistência ou trabalho (pro labore), po<strong>de</strong>ndo ser na agricultura, na pecuária, no<br />

O<br />

ou em ativida<strong>de</strong> similar. O fator essencial é que a pessoa ou a família esteja tornando produtiva a<br />

extrativismo<br />

<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Civil</strong><br />

caráter produtivo, ou seja, se a função social da posse estiver sendo cumprida pela presença da possetrabalho.<br />

O que se percebe é que nos dois casos não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se provar a boa­fé ou o justo título,<br />

havendo uma presunção absoluta ou iure et <strong>de</strong> iure da presença <strong>de</strong>sses elementos. O requisito, portanto,<br />

é único, isto é, a presença da posse que apresente os requisitos exigidos em lei.<br />

Por fim, consigne­se que a nova modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usucapião extraordinária, fundada na possetrabalho,<br />

vem sendo objeto <strong>de</strong> numerosos julgados nacionais (por todos: STJ, REsp 1.088.082/RJ, 4.ª<br />

Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 02.03.2010, DJE 15.03.2010; TJSP, Apelação<br />

994.09.273833­3, Acórdão 4552538, Fernandópolis, 6.ª Câmara <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> Privado, Rel. Des. Roberto<br />

Solimene, j. 10.06.2010, DJESP 26.07.2010; TJMG, Apelação Cível 1.0317.05.048800­4/0011, Itabira,<br />

17.ª Câmara Cível, Rel. Des. <strong>Ed</strong>uardo Mariné da Cunha, j. 29.10.2009, DJEMG 18.11.2009).<br />

c) Da usucapião constitucional ou especial rural – pró­labore (art. 191, caput, da CF/1988; art.<br />

1.239 do CC e Lei 6.969/1981)<br />

Dispõe o caput do art. 191 da CF/1988 que “Aquele que, não sendo proprietário <strong>de</strong> imóvel rural ou<br />

urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área <strong>de</strong> terra, em zona rural, não<br />

superior a cinquenta hectares, tornando­a produtiva por seu trabalho ou <strong>de</strong> sua família, tendo nela sua<br />

moradia, adquirir­lhe­á a proprieda<strong>de</strong>”. A regra foi reproduzida, na literalida<strong>de</strong>, pelo art. 1.239 do<br />

CC/2002; estando o instituto da usucapião constitucional ou especial rural do mesmo modo<br />

regulamentado pela Lei 6.969/1981.<br />

Pontue­se que, entre os autores do <strong>Direito</strong> Agrário, a categoria é <strong>de</strong>nominada como usucapião<br />

agrário ou agrária. Segundo Benedito Ferreira Marques, o termo especial <strong>de</strong>ve ser utilizado apenas para<br />

a usucapião indígena, a seguir estudada, e não para o instituto objeto <strong>de</strong>ste tópico. 76 De toda sorte, o<br />

presente autor prefere utilizar o termo especial, majoritário na doutrina civilista nacional também para a<br />

usucapião constitucional urbana.<br />

Em relação aos seus requisitos, po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>stacados os seguintes:<br />

•<br />

•<br />

área não po<strong>de</strong> ser superior a 50 hectares (50 ha), e <strong>de</strong>ve estar localizada na zona rural.<br />

A<br />

posse <strong>de</strong>ve ter cinco anos ininterruptos, sem oposição e com animus domini.<br />

A<br />

•<br />

por força <strong>de</strong> seu trabalho.<br />

terra,<br />

que preten<strong>de</strong> adquirir por usucapião não po<strong>de</strong> ser proprietário <strong>de</strong> outro imóvel, seja ele rural ou urbano.<br />

Aquele<br />

•<br />

Não há qualquer previsão quanto ao justo título e à boa­fé, pois tais elementos se presumem <strong>de</strong><br />

forma absoluta (presunção iure et <strong>de</strong> iure) pela <strong>de</strong>stinação que foi dada ao imóvel, aten<strong>de</strong>ndo à sua<br />

função social.<br />

Em relação ao instituto da usucapião especial rural, interessante aqui comentar alguns enunciados<br />

aprovados nas Jornadas <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Civil</strong>, com conteúdo muito importante e que merecem o <strong>de</strong>vido<br />

estudo.<br />

O primeiro <strong>de</strong>les é o Enunciado n. 312 do CJF/STJ, da IV Jornada <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Civil</strong> (2006), pelo<br />

qual “Observado o teto constitucional, a fixação da área máxima para fins <strong>de</strong> usucapião especial rural<br />

levará em consi<strong>de</strong>ração o módulo rural e a ativida<strong>de</strong> agrária regionalizada”. Para Paulo Henrique Cunha<br />

da Silva, autor do enunciado doutrinário: “Trata­se <strong>de</strong> posse pro labore em conjunto com a família, daí<br />

não assistir razão para que a modalida<strong>de</strong> especial <strong>de</strong> aquisição seja para áreas superiores ou inferiores a<br />

um módulo. Ora, o inciso II, do art. 4.º, do Estatuto da Terra (Lei 4.504/1964), <strong>de</strong>fine como

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!