14.04.2017 Views

Manual de Direito Civil - Flávio Tartuce - 7ª Ed. - 2017

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Civil</strong><br />

DA NORMA JURÍDICA E SUA APLICAÇÃO. ANÁLISE DO<br />

CARACTERÍSTICAS<br />

3.º DA LEI DE INTRODUÇÃO<br />

ART.<br />

1.3<br />

A lei, como fonte primária do <strong>Direito</strong> Brasileiro, tem as seguintes características básicas:<br />

a)<br />

b)<br />

c)<br />

d)<br />

e)<br />

Generalida<strong>de</strong> – a norma jurídica dirige­se a todos os cidadãos, sem qualquer distinção, tendo<br />

eficácia erga omnes.<br />

Imperativida<strong>de</strong> – a norma jurídica é um imperativo, impondo <strong>de</strong>veres e condutas para os<br />

membros da coletivida<strong>de</strong>.<br />

Permanência – a lei perdura até que seja revogada por outra ou perca a eficácia.<br />

Competência – a norma, para valer contra todos, <strong>de</strong>ve emanar <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> competente, com o<br />

respeito ao processo <strong>de</strong> elaboração.<br />

Autorizante – o conceito contemporâneo <strong>de</strong> norma jurídica traz a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> um autorizamento (a<br />

norma autoriza ou não autoriza <strong>de</strong>terminada conduta), estando superada a tese <strong>de</strong> que não há<br />

norma sem sanção (Hans Kelsen).<br />

Como outra característica básica, está consagrado no art. 3.º da Lei <strong>de</strong> Introdução o princípio da<br />

obrigatorieda<strong>de</strong> da norma, pelo qual ninguém po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> cumprir a lei alegando não a conhecer.<br />

Três são as correntes doutrinárias que procuram justificar o conteúdo da norma:<br />

a)<br />

b)<br />

c)<br />

Teoria da ficção legal, eis que a obrigatorieda<strong>de</strong> foi instituída pelo or<strong>de</strong>namento para a<br />

segurança jurídica. 8<br />

Teoria da presunção absoluta, pela qual haveria uma <strong>de</strong>dução iure et <strong>de</strong> iure <strong>de</strong> que todos<br />

conhecem as leis. 9<br />

Teoria da necessida<strong>de</strong> social, amparada, segundo Maria Helena Diniz, na premissa “<strong>de</strong> que as<br />

normas <strong>de</strong>vem ser conhecidas para que melhor sejam observadas”, a gerar o princípio da<br />

vigência sincrônica da lei. 10<br />

A última das teorias parece melhor convencer. De fato, não merece alento a tese da ficção legal,<br />

pela qual a obrigatorieda<strong>de</strong> é um comando criado pela lei e dirigida a todos; muito menos a teoria pela<br />

qual há uma presunção absoluta (iure et iure) <strong>de</strong> que todos conhecem o teor da norma, a partir da sua<br />

publicação. Sobre a tese da presunção, comenta Zeno Veloso, com razão e filiado à teoria da<br />

necessida<strong>de</strong> social:<br />

“Não se <strong>de</strong>ve concluir que o aludido art. 3.º da LICC está expressando uma presunção <strong>de</strong> que<br />

todos conhecem as leis. Quem acha isto está conferindo a pecha <strong>de</strong> inepto ou insensato ao<br />

legislador. E ele não é estúpido. Num País em que há um excesso legislativo, uma<br />

superprodução <strong>de</strong> leis, que a todos atormenta, assombra e confun<strong>de</strong> – sem contar o número<br />

enormíssimo <strong>de</strong> medidas provisórias –, presumir que todas as leis são conhecidas por todo<br />

mundo agrediria a realida<strong>de</strong>”. 11<br />

Em reforço, constata­se que o princípio da obrigatorieda<strong>de</strong> das leis não po<strong>de</strong> ser visto como um<br />

preceito absoluto, havendo claro abrandamento no Código <strong>Civil</strong> <strong>de</strong> 2002. Isso porque o art. 139, III, da<br />

codificação material em vigor admite a existência <strong>de</strong> erro substancial quando a falsa noção estiver<br />

relacionada com um erro <strong>de</strong> direito (error iuris), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que este seja única causa para a celebração <strong>de</strong><br />

um negócio jurídico e que não haja <strong>de</strong>sobediência à lei. Alerte­se, em complemento, que a Lei <strong>de</strong><br />

Contravenções Penais já previa o erro <strong>de</strong> direito como justificativa para o <strong>de</strong>scumprimento da norma<br />

(art. 8.º).<br />

Pois bem, não há qualquer conflito entre o art. 3.º da Lei <strong>de</strong> Introdução e o citado art. 139, III, do

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!