14.04.2017 Views

Manual de Direito Civil - Flávio Tartuce - 7ª Ed. - 2017

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Civil</strong><br />

conhecimentos técnicos, forem complexos, ou realizados em lugares distantes do domicílio do tutor, po<strong>de</strong>rá este,<br />

mediante aprovação judicial, <strong>de</strong>legar a outras pessoas físicas ou jurídicas o exercício parcial da tutela. Como<br />

comenta Maria Helena Diniz, o po<strong>de</strong>r do tutor é uno e indivisível, sendo o encargo pessoal. Entretanto, isso não<br />

obsta a cessão da tutela, uma concessão parcial do encargo, o que se <strong>de</strong>nomina tutela parcial ou cotutoria. 209<br />

Como se percebe, a última hipótese não se confun<strong>de</strong> com a atuação do protutor, pois aqui a tutela é exercida <strong>de</strong><br />

forma concomitante, nos limites do que for <strong>de</strong>terminado pelo juiz da Vara da Infância e da Juventu<strong>de</strong>.<br />

O Código <strong>Civil</strong> <strong>de</strong> 2002, a exemplo do anterior, continua trazendo a responsabilida<strong>de</strong> do juiz quanto à tutela<br />

havendo prejuízos ao tutelado, po<strong>de</strong>ndo essa responsabilida<strong>de</strong> ser direta ou subsidiária em relação ao tutor (art.<br />

1.744 do CC). A responsabilida<strong>de</strong> do juiz será direta e pessoal quando não tiver nomeado o tutor ou não o houver<br />

feito oportunamente. Por outra via, essa responsabilida<strong>de</strong> do magistrado será subsidiária quando não tiver exigido<br />

garantia legal do tutor, nem o removido, tanto que se tornou suspeito. Nos dois casos, exige­se apenas culpa do<br />

juiz, e não o dolo, que era regra geral contida no art. 133 do CPC/1973, repetida pelo art. 143 do CPC/2015.<br />

Ainda no que tange ao exercício do munus, os bens do menor serão entregues ao tutor mediante termo<br />

especificado <strong>de</strong>sses bens e seus valores, mesmo que os pais o tenham dispensado, o que se <strong>de</strong>nomina inventário<br />

<strong>de</strong> bens (art. 1.745 do CC). Entretanto, se o patrimônio do menor for <strong>de</strong> valor consi<strong>de</strong>rável, po<strong>de</strong>rá o juiz<br />

condicionar o exercício da tutela à prestação <strong>de</strong> uma caução bastante para tanto, po<strong>de</strong>ndo dispensá­la se o tutor<br />

for <strong>de</strong> reconhecida idoneida<strong>de</strong> (art. 1.745, parágrafo único, do CC).<br />

Como exposto anteriormente, essa caução substituiu a hipoteca legal que era conferida ao tutelado ou<br />

curatelado em razão dos bens imóveis do tutor ou curador, nos termos do art. 827, IV, do CC/1916. Tanto isso é<br />

verda<strong>de</strong> que o art. 2.040 do CC/2002, norma <strong>de</strong> direito intertemporal, enuncia que: “A hipoteca legal dos bens do<br />

tutor ou curador, inscrita em conformida<strong>de</strong> com o inciso IV do art. 827 do Código <strong>Civil</strong> anterior, Lei 3.071, <strong>de</strong><br />

1.º <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1916, po<strong>de</strong>rá ser cancelada, obe<strong>de</strong>cido o disposto no parágrafo único do art. 1.745 <strong>de</strong>ste<br />

Código”. Em suma, todas essas hipotecas legais <strong>de</strong>vem ser substituídas pela caução, sob pena <strong>de</strong> não mais<br />

valerem, o que também po<strong>de</strong> atingir a valida<strong>de</strong> da própria tutela.<br />

Se o menor possuir bens, será sustentado e educado a expensas <strong>de</strong>sses bens existentes, arbitrando o juiz,<br />

para tal fim, as quantias que lhe pareçam necessárias (art. 1.746 do CC). Por conseguinte, o juiz <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar<br />

o rendimento da fortuna do pupilo quando o seu pai ou a sua mãe não as houver fixado.<br />

Além daquelas atribuições constantes do art. 1.740 da norma geral material, no seu art. 1.747, o Código<br />

<strong>Civil</strong> <strong>de</strong> 2002 traz outras funções do tutor que também in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> autorização judicial, a saber. A primeira<br />

<strong>de</strong>las é a <strong>de</strong> representar o menor, até os 16 anos, nos atos da vida civil, e assisti­lo, após essa ida<strong>de</strong>, nos atos em<br />

que for parte. Deve também o tutor receber as rendas e pensões do menor e as quantias a ele <strong>de</strong>vidas, sempre<br />

guiado pela boa­fé nesse recebimento. O tutor tem, ainda, a atribuição <strong>de</strong> fazer as <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> subsistência e<br />

educação em proveito do menor, bem como as <strong>de</strong> administração, conservação e melhoramentos <strong>de</strong> seus bens.<br />

Po<strong>de</strong>, também, alienar os bens do menor <strong>de</strong>stinados à venda. Por fim, cabe ao tutor promover, mediante preço<br />

conveniente, o arrendamento <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> raiz, ou seja, dos imóveis do menor que possam ser locados.<br />

Enquanto nos casos anteriormente listados a autorização judicial não se faz necessária, o art. 1.748 do<br />

CC/2002 consagra outras incumbências, que precisam da anuência do juiz. O primeiro inciso prevê a hipótese <strong>de</strong><br />

pagamento das dívidas do menor, o que tem natureza onerosa, justificando essa fiscalização. Compete também ao<br />

tutor, com autorização do juiz, aceitar pelo menor as heranças, os legados ou as doações, ainda que com encargos<br />

(doações modais, <strong>de</strong> caráter oneroso). A ele cabe, com chancela judicial, transigir, ou seja, celebrar contratos<br />

visando à extinção <strong>de</strong> dívidas. O mesmo se diga quanto ao ato <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r os bens móveis do menor, cuja<br />

conservação não convier, e os imóveis nos casos em que for permitido. Por fim, a última atribuição do tutor que<br />

necessita <strong>de</strong> autorização do juiz é a <strong>de</strong> propor em juízo as ações, ou nelas assistir o menor, e promover todas as<br />

diligências a bem <strong>de</strong>ste, assim como <strong>de</strong>fendê­lo nos pleitos contra ele movidos.<br />

As últimas hipóteses apontadas são <strong>de</strong> outorga judicial, e a falta <strong>de</strong>sta gera a ineficácia do ato, até que<br />

ocorra a confirmação posterior (art. 1.748, parágrafo único, do CC). Anote­se que a opção legislativa, aqui, não<br />

foi pela invalida<strong>de</strong> do ato, como ocorre com a outorga conjugal, geradora <strong>de</strong> sua nulida<strong>de</strong> relativa (arts. 1.647 e<br />

1.649 do CC/2002).<br />

Sem prejuízo <strong>de</strong>ssas situações, há atos que o tutor não po<strong>de</strong> praticar mesmo com autorização judicial, sob<br />

pena <strong>de</strong> sua nulida<strong>de</strong> absoluta, conforme disciplina o art. 1.749 do Código <strong>Civil</strong>. O primeiro <strong>de</strong>les é <strong>de</strong> adquirir<br />

por si, ou por interposta pessoa, mediante contrato particular, bens móveis ou imóveis pertencentes ao menor. A<br />

segunda vedação diz respeito a dispor dos bens do menor a título gratuito. Ao tutor, por fim, é vedado constituir­

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!