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Escritos de Saúde Coletiva

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escritos de saúde coletiva

superar as falhas de mercado, tornando-o mais concorrencial e competitivo no tocante à formação

de preços”.

Esse marco se consubstanciaria na Política de Medicamentos formulada em 1998, na qual o

Estado passa a atuar como principal comprador – pressionando, assim, a formação de preços –; a

apoiar o desenvolvimento e o aumento da produção de laboratórios oficiais, para que passassem

a produzir os medicamentos e insumos de que depende a política de assistência farmacêutica

definida para o SUS; e a implementar uma política de estímulo ao medicamento genérico.

No curto prazo, essa política não obteve os resultados pretendidos. Ao contrário, durante os

anos de 1999 e 2000 – em que não houve qualquer controle de preços –, a população teve de se

haver com reajustes abusivos no preço dos medicamentos e o Governo com uma contenda entre

o Ministro da Saúde, que cobrava uma intervenção para controlá-los, e o Ministro da Fazenda,

refratário a qualquer controle de preços.

O Relatório da CPI dos Medicamentos, dado a conhecer em maio de 2000, não apenas favorecia

a intervenção governamental no setor como propunha que o controle de preços de medicamentos

fosse transferido da área econômica do Governo para o Ministério da Saúde.

O agravamento da situação levou o Governo a ameaçar os laboratórios com o retorno ao controle

de preços por meio de uma câmara técnica, conseguindo obter, como alternativa, em junho

de 2000, um novo acordo com a indústria farmacêutica para manter congelado o preço dos medicamentos

até o final do ano, enquanto um grupo de trabalho composto por representantes dos

Ministérios da Fazenda, Justiça e Saúde elaborava a “regulamentação para o setor farmacêutico”.

Essa regulação veio na forma de uma medida provisória 16 , editada às vésperas do Natal de 2000,

na qual são definidas normas de regulação para o setor de medicamentos, é instituída uma “Fórmula

Paramétrica de Reajuste de Preços de Medicamentos” e criada a Câmara de Medicamentos (Camed).

Na prática, a medida concedeu um reajuste de até 4,4% – que atingiu apenas 10% dos laboratórios

– e congelou os preços por mais um ano. Ao mesmo tempo, o governo reduziu os impostos

sobre 350 medicamentos usados para tratamento de doenças cardiovasculares, diabetes e aids, e

solicitou aos estados que também o fizessem, esperando que a indústria transferisse para o preço

dos remédios essa redução de custos operacionais.

A partir de então, o relacionamento entre o Governo e os laboratórios passa a ser qualificado

como hostil, sendo concedidos aumentos sempre menores do que os pleiteados em outubro de

2001 (4%) – para recompor os preços devido à alta do dólar –, em janeiro de 2002 (4,32%), e um

“aumento extraordinário” de 8,63%, em novembro de 2002, também em razão da desvalorização

do Real – este último já com o acordo da equipe do Governo Lula, em pleno processo de transição.

O congelamento de preços dos medicamentos foi mantido até o final do governo FHC. Em

verdade, um congelamento relativo, uma vez que os remédios acumularam, em 2002, concedidos

pela Camed, reajustes médios de 13,4%, índice superior ao da inflação no período.

16 Medida Provisória nº 2.230, de 19 de dezembro de 2000, convertida na Lei nº 10.213, de 27 de março de 2001.

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