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Escritos de Saúde Coletiva

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escritos de saúde coletiva

Comunicando-se por um sistema de sinais – pressionando seus dedos sobre a palma da mão do

interlocutor – desenvolvido por ele e sua mãe, ditou uma carta ao Presidente da França pedindo

a eutanásia e, mais tarde, suas memórias ao jornalista. Não teve a sua solicitação atendida e sua

mãe e seu médico acabaram sendo processados por satisfazê-la.

Ao ser investigado judicialmente, o médico – que revelou que a eutanásia de Vincent Hubert

foi uma decisão coletiva da equipe que o assistia – recebeu a solidariedade pública de 110 de seus

colegas que publicaram um manifesto de apoio a ele. Uma página de solidariedade ao médico,

aberta na Internet, recebeu milhares de “visitas”.

Num país cujo código penal prevê pena de até prisão perpétua para quem pratica a eutanásia,

85% dos adultos franceses investigados queriam ver reconhecido o direito a ser ajudado a morrer.

Em vista do drama de Vincent Humbert, a câmara dos deputados francesa criou uma comissão

para estudar o problema e o Ministro da Saúde veio a público pedir que o debate sobre a eutanásia

permanecesse aberto, no país.

Na Austrália, uma pesquisa realizada em 1995 mostrou que 81% dos adultos apoiam a eutanásia,

um aumento em relação a pesquisas similares anteriores realizadas em 1994 (79%) e 1986

(66%). Uma pesquisa paralela evidenciou que 60% dos médicos e 78% dos enfermeiros daquele

país eram favoráveis à eutanásia voluntária. (7)

No Japão, uma pesquisa recente encontrou que 88% dos médicos consultados se declararam

a favor da eutanásia ativa; 2%, contra e 10% não responderam (8).

O Direito de morrer – principais argumentos a favor e contra a eutanásia

A grande discussão aqui é sobre se existe ou não o direito de morrer; se o direito constitucional

à vida – presente na quase totalidade dos textos constitucionais, mundo afora – implica ou

não em negar ao homem o direito de escolher morrer.

Na medida em que a proibição de causar, intencionalmente, a morte de alguém é um dos

fundamentos das relações sociais, a eutanásia é considerada um crime, na maioria dos países.

Além desse, os principais argumentos contra a eutanásia se baseiam em razões de ordem religiosa

– tomando destaque o “mandamento” judaico-cristão de “não matarás” –; de ordem ética –

e, aqui, se contrapõe o axioma hipocrático de primum non nocere –; de ordem lógica – oponentes

à eutanásia alegam que a permissão para que o médico pratique eutanásia minaria, de forma

definitiva, a relação de confiança que deve existir e prevalecer entre médico e paciente, em especial

entre aqueles gravemente doentes e dependentes –; e de ordem prática – alegando-se que,

por um lado, os médicos e outros trabalhadores de saúde não são adequadamente treinados para

isso e, por outro, que sua descriminalização ensejaria abusos.

O principal argumento a favor da eutanásia e sua descriminalização baseia-se no reconhecimento

do direito à autodeterminação e autonomia, isto é, o reconhecimento do direito de o

doente tomar decisões em relação a sua vida e morte, de acordo com seus próprios valores e

crenças, como uma questão de liberdade e equidade, em face da morte.

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