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Escritos de Saúde Coletiva

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coleção de estudos do Doutor Luiz Carlos P. Romero

– enfermeiros, farmacêuticos, nutricionistas, psicólogos etc. – como pelo crescente e promissor

mercado das ‘medicinas alternativas’, e trataram de buscar obter, por cooptação do Poder Legislativo,

o monopólio ou, pelo menos, a maior fatia desse mercado.

Durante muitos anos, a corporação médica – tendo a frente o Conselho Federal de Medicina

e a Associação Médica Brasileira – lutou contra que a Homeopatia, a Medicina Tradicional Chinesa

– reduzida a sua técnica mais visível, a acupuntura – e a Naturopatia, entre outras racionalidades

médicas, fossem reconhecidas como conhecimentos e práticas legítimas.

Talvez por ser também científica, a Homeopatia foi mais facilmente metabolizada e integrada

como ‘especialidade médica’. O mesmo não aconteceu com a ‘Acupuntura’ cuja tentativa, nos

últimos anos, de promovê-la ao mesmo status por meio de projetos de lei resultou numa luta

sem resultados e sem vencedores que se arrasta no Congresso Nacional por quase vinte anos.

Do ponto de vista da corporação médica brasileira, existe uma única medicina: a Medicina

Científica Ocidental. Homeopatia e Acupuntura – não a Medicina Tradicional Chinesa, ainda

olhada como uma prática exótica ou primitiva – só ganham status sob a forma de ‘especialidades

médicas’, isto é, práticas apenas permitidas a médicos formados em Medicina Científica

Ocidental. Todas as demais medicinas sofrem, ainda, processo permanente de perseguição que

as caracteriza como curandeirismo, charlatanismo ou, no mínimo, exercício ilegal da medicina.

Seu exercício não é regulamentado. Não são objeto de fiscalização. O Conselho Federal de

Medicina só trata delas para reprimir sua prática e atua, em verdade, como um bastião da Medicina

Científica Ocidental, hegemônica e com poder absoluto, na qualidade de organismo estatal

de fiscalização do exercício profissional.

E assim chegamos ao título deste artigo: o último dos fundamentalismos é o reconhecimento

da existência de uma única medicina – como o único texto sagrado –, a declaração como

não-válidos os conhecimentos científicos e práticas médicas milenares, e intolerância e intransigência

para com seus praticantes que não aceitarem serem cooptados.

O País vive, sem intolerância, fanatismo ou intransigência, um glorioso pluralismo religioso,

político e cultural, mas não se permite – em nome de um mercado e de um poder – a convivência

de diferentes medicinas, que, inclusive, poderiam vir a ser contribuições válidas e poderosas

para a solução ou, pelo menos a redução, dos graves problemas de saúde de nosso povo.

Brasília, 12 de janeiro de 2004

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