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Escritos de Saúde Coletiva

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escritos de saúde coletiva

Na opinião do Prof. Flávio Goulart, da Universidade de Brasília, em estudo produzido para o

Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde em 1995, “com o golpe militar de 1964

estabeleceu-se, no Brasil, um definido movimento de ‘desmunicipalização’ das responsabilidades

sociais”. (1)

A centralização de recursos no nível federal durante o período autoritário — em especial após

a reforma tributária de 1967 — e o crescimento da oferta de serviços de assistência médica pela

Previdência Social durante a década de 70 tiveram, como consequência, que estados e municípios

reduzissem sua participação no investimento e no financiamento de ações e serviços de saúde.

As ações pioneiras intentadas nas décadas de 70 e 80, já citadas — Pnct, Piass, Pnsbs, AIS, Suds

— testaram a estratégia de descentralização, pouco contribuindo, no entanto, para a municipalização,

uma vez que as transferências federais se fizeram apenas para as secretarias estaduais de

saúde e só muito excepcionalmente atingiram os municípios.

A municipalização, entendida como a competência do Poder Público Municipal para formular

as políticas de saúde de âmbito local e para planejar, organizar, executar, avaliar e controlar

as ações e serviços de saúde na sua área de atuação, é justificada pela maior racionalidade que

permite à organização do sistema de saúde, uma vez que o poder de decisão se encontra mais

próximo dos problemas a serem enfrentados.

A diretriz de descentralização é a primeira a ser citada no texto constitucional que define o

Sistema Único de Saúde: “descentralização com direção única em cada esfera de governo”. Sua

implementação, no entanto, sofre tantos percalços como a das demais.

As fontes e os mecanismos de financiamento têm definido as características e as possibilidades

de sua materialização.

Em comparação com outros países de nível de desenvolvimento econômico semelhante ao

nosso, temos sido, na última década, o país que menos gasta com saúde, seja em termos de gastos

per capita, seja em termos de percentual do Produto Interno Bruto.

A participação da União no financiamento do SUS depende das contribuições sociais que

compõem o Orçamento da Seguridade Social. Tanto nos anos imediatos pós-88, como atualmente,

depois da implosão do Sistema de Seguridade Social, a função saúde tem sido financiada com

as sobras das despesas com benefícios de Previdência.

Mesmo em períodos em que a arrecadação de contribuições sociais mostrou crescimento significativo,

houve insuficiência de recursos para financiamento da saúde, em razão dessa perspectiva

e dos fenômenos descritos acima.

Desde 1987, os gastos públicos federais com Saúde têm sido inferiores a 10,9 bilhões de dólares

ao ano. Em 1994, após uma pequena recuperação iniciada no ano anterior, atingiu-se a cifra de

10,4 bilhões de dólares ao ano. Só em 1995 voltamos ao nível de investimentos de 1987.

Ao lado da insuficiência dos gastos públicos federais, estados e municípios também gastam

muito pouco com saúde, atingindo, atualmente, em média, cerca de 9 % dos seus orçamentos,

no caso dos municípios, e 6 %, no caso dos estados. É verdade que existem exceções — poucas

— importantes.

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