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Escritos de Saúde Coletiva

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escritos de saúde coletiva

nesse mercado por outra mais concentrada, com rápido impacto sobre sua toxicidade e aumento

do número de problemas de saúde associados, entre usuários;

3. a proibição não reduziu o tráfico nem as vendas de drogas ilícitas; é estimado que apenas

cinco a dez por cento das drogas ilícitas são apreendidas na rota de sua distribuição, mesmo em

países com eficiente combate ao tráfico; o preço e o grau de pureza de cocaína, apreendida nas

ruas das grandes cidades americanas, voltam aos padrões anteriores em pouco tempo após a

apreensão de grandes quantidades de droga, sugerindo a disponibilidade de grandes estoques e

que a ação policial apenas desorganiza temporariamente as redes de distribuição;

4. a proibição não reduziu o consumo de drogas ilícitas; nesse último quartel de nosso século,

ao mesmo tempo em que se intensificou a chamada guerra contra as drogas, o seu consumo se

ampliou e passou a atingir um número crescente de países;

5. a proibição não reduziu a criminalidade associada a drogas; segundo dados do Australian

Bureau of Criminal Inteligence 52 , a taxa de delitos associados a droga, naquele país, aumentou de

150 por 100.000 habitantes, em 1980, para 500, em 1992, durante a vigência de legislação e política

de combate a drogas; segundo essas mesmas autoridades, a violência associada à heroína está

mais associada às políticas visando seu controle do que a qualquer das propriedades farmacológicas

da droga. Por outro lado, a política de guerra às drogas e as leis que a conformam têm enchido

as cadeias de usuários de drogas, com um custo social altíssimo e sem resultados visíveis sobre

a redução da criminalidade. O relatório do Australian Parliamentary Group for Drug Law Reform 53

conclui que um dos resultados da guerra às drogas implementada nos últimos anos foi o aumento

do mercado negro, o florescimento do crime organizado e o aumento da corrupção policial;

6. a proibição aumentou os problemas de saúde associados ao uso de drogas, em decorrência

da adoção de práticas de maior risco, por parte dos usuários, da ausência de controle do grau de

pureza e da qualidade das drogas utilizadas, da adoção da via endovenosa para administração, da

dificuldade de acesso a usuários por parte de programas de prevenção e do medo dos dependentes

em procurar tratamento e serem indiciados. O número de mortes associadas ao uso de drogas

vem crescendo na maior parte dos países, desde o início da década de 70. A epidemia de Aids, por

outro lado, representa um risco adicional para usuários, seus parceiros sexuais e seus filhos; a restrição

ao acesso a seringas e agulhas estéreis – que as políticas de proibição produzem – aumenta

a taxa de compartilhamento desses equipamentos e favorece a disseminação de infecções virais

de transmissão sanguínea, especialmente a Aids e as hepatites, com importante impacto sobre as

estatísticas de incidência e mortalidade associadas a essas doenças;

7. a manutenção de programas de repressão a drogas impõe um desvio de vultosos montantes

de recursos públicos, com baixíssimo rendimento. É estimado que os Estados Unidos gastam,

52 AUSTRALIA. Bureau of Criminal Intelligence. Australian Illicit Drug Annual Report, apud WODAL, A., OWEN, R.

op. cit.

53 AUSTRÁLIA. Parliamentary Group for Drug Law Reform. op. cit.

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