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Escritos de Saúde Coletiva

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escritos de saúde coletiva

2. a proibição não reduziu nem o cultivo nem a produção de ópio, coca ou canabis; ao contrário,

entre 1985 e 1993, a produção global de ópio triplicou e a de coca duplicou; os sucessos

no combate ao cultivo e à produção em determinadas regiões ou países na grande maioria das

vezes apenas substituíram a produção local por importação ou uma área produtiva ou cartel por

outro, em curto prazo de tempo; na experiência australiana, a restrição ao uso da canabis estimulou

um crescimento espetacular do consumo de anfetaminas e, na experiência mundial, quando

é reprimido o uso de uma droga que está bem estabelecido, em geral essa droga é substituída

nesse mercado por outra mais concentrada, com rápido impacto sobre sua toxicidade e aumento

do número de problemas de saúde associados, entre usuários;

3. a proibição não reduziu o tráfico nem as vendas de drogas ilícitas; é estimado que apenas

5% a 10% das drogas ilícitas são apreendidas na rota de sua distribuição, mesmo em países com

eficiente combate ao tráfico; o preço e o grau de pureza de cocaína, apreendida nas ruas das

grandes cidades americanas, voltam aos padrões anteriores em pouco tempo após a apreensão

de grandes quantidades de droga, sugerindo a disponibilidade de grandes estoques e que a ação

policial apenas desorganiza temporariamente as redes de distribuição;

4. a proibição não reduziu o consumo de drogas ilícitas; nesse último quartel de nosso século,

ao mesmo tempo em que se intensificou a chamada guerra contra as drogas, o seu consumo se

ampliou e passou a atingir um número crescente de países;

5. a proibição não reduziu a criminalidade associada a drogas; segundo dados do Australian

Bureau of Criminal Inteligence (2), a taxa de delitos associados a droga, naquele país, aumentou

de 150 por 100.000 habitantes, em 1980, para 500, em 1992, durante a vigência de legislação e

política de combate às drogas; segundo essas mesmas autoridades, a violência associada à heroína

está mais associada às políticas visando seu controle do que a qualquer das propriedades

farmacológicas da droga. Por outro lado, a política de guerra às drogas e as leis que a conformam

tem enchido as cadeias de usuários de drogas, com um custo social altíssimo e sem resultados

visíveis sobre a redução da criminalidade. O relatório do Australian Parliamentary Group for Drug

Law Reform (2) conclui que um dos resultados da guerra às drogas implementada nos últimos

anos foi o aumento do mercado negro, o florescimento do crime organizado e o aumento da

corrupção policial;

6. a proibição aumentou os problemas de saúde associados ao uso de drogas, em decorrência

da adoção de práticas de maior risco, por parte dos usuários, da ausência de controle do grau de

pureza e da qualidade das drogas utilizadas, da adoção da via endovenosa para administração, da

dificuldade de acesso a usuários por parte de programas de prevenção e do medo dos dependentes

de procurar tratamento e serem indiciados. O número de mortes associadas ao uso de drogas

vem crescendo na maior parte dos países, desde o início da década de 70. A epidemia de aids, por

outro lado, representa um risco adicional para usuários, seus parceiros sexuais e seus filhos; a restrição

ao acesso a seringas e agulhas estéreis – que as políticas de proibição produzem – aumenta

a taxa de compartilhamento desses equipamentos e favorece a disseminação de infecções virais

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