20.05.2021 Views

Escritos de Saúde Coletiva

Escritos de Saúde Coletiva

Escritos de Saúde Coletiva

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

escritos de saúde coletiva

vez que os que menos podem pagar serviços de assistência médica subsidiem, via renúncia fiscal,

os que podem.

O que se viu, assim, foi que paralelamente ao desenvolvimento de um arcabouço jurídico-

-institucional que visada à universalização de cobertura, com caráter francamente distributivo,

desenvolveu-se, por parte do mercado privado de provedores de serviços de assistência médica,

toda uma estratégia alternativa de financiamento que lhes permitiu, ao mesmo tempo, sua independência

do setor público e uma alavancagem de demanda.

Do lado do setor público, ao invés de um crescimento da oferta de ações e serviços coerente

com o princípio da universalização, o que se viu foi o retraimento dos investimentos no setor e

do seu custeio, o sucateamento dos equipamentos existentes, a queda da qualidade dos serviços,

as filas, que funcionam como mecanismos de racionamento e expulsão do sistema daqueles

segmentos populacionais menos resistentes a ele, isto é as classes com possibilidade de financiar

seus gastos com saúde pela via da securitização e de obter sua satisfação na rede de serviços privada.

Restou ao setor público voltar-se para o atendimento dos segmentos sociais mais carentes,

sem poder de compra e de inserção no mercado da assistência médica privada.

A esse fenômeno foi atribuído a nome de “universalização excludente”(5): “assim, percebe-se

claramente a conformação tendencial do sistema de saúde brasileiro, em que cada vez mais seus

dois componentes – público e privado – se autonomizam em termos financeiros e em sua lógica

de expansão e articulação com as clientelas demandantes. (...) Podemos supor a existência de um

processo de “universalização excludente”, em que cada movimento de expansão universalizante

do sistema é acompanhado de mecanismos de racionamento (queda da qualidade dos serviços,

filas etc.) que expulsam daqueles diversos segmentos sociais.”

Mudança de paradigma (saúde ou assistência médica?)

Até 1988, a assistência médica era entendida como um benefício de Previdência Social, isto é,

o acesso a ela era limitado à condição de segurado e contribuinte. O Inamps, organismo estatal

responsável pela prestação de assistência médica, compunha o Sinpas – Sistema Nacional de Previdência

e Assistência Social.

Este paradigma data de 1923, instituído pela Lei Elói Chaves que criou as caixas de assistência

e previdência, consolidando-se nas reformas por que passou o setor, em especial durante o período

autoritário.

É bem verdade que, a partir dos últimos anos da década de 1970 e, principalmente, durante

toda a década de 1980, já vinham sendo experimentadas alternativas de integração, na busca por

expansão de cobertura, inicialmente com a implantação de um Programa Nacional de Controle

de Tuberculose (Pnct) nas redes das secretarias de saúde, com acesso universal e gratuito, financiado

com recursos do Inamps; o Programa de Interiorização de Ações de Saúde e Saneamento

(Piass); o Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde (Pnsbs); as Ações Integradas de Saúde

(AIS) e, por fim, o Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (Suds).

30

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!