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Escritos de Saúde Coletiva

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escritos de saúde coletiva

As agências e o Sistema Único de Saúde

No âmbito do SUS, a ‘agencificação’ está alcançando níveis tais que concorre para desconstruir

o princípio constitucional da direção única em cada esfera de governo.

Quando a situação dos planos de saúde ficou insuportável, no ano passado, e os usuários se

dirigiram ao Ministro da Saúde, ele disse não ter nada com isso, que, agora, era responsabilidade

do Presidente da Agência de Saúde Suplementar. É claro que teve de voltar atrás. Mas o episódio

deixou claro que esse é o ‘espírito da coisa’.

Com a criação de um conjunto de agências – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Agência

Nacional de Saúde Suplementar e, agora, Agência Federal de Prevenção e Controle de Doenças

(Apec), concluiu-se um processo que vinha sendo urdido desde 1988: a ‘inampização’ do Ministério

da Saúde.

Com a retirada de sua competência da regulação, fiscalização e até mesmo da execução de

um conjunto ações e serviços típicos de saúde pública – vigilância sanitária, saúde suplementar,

controle de doenças – o que sobra para o Ministério da Saúde? A assistência médica e a assistência

farmacêutica – exatamente as atribuições do antigo Instituto Nacional de Assistência Médica

da Previdência Social.

Mas a ‘inampização’ não se restringe à passagem das atribuições de saúde pública da esfera

do Ministério da Saúde para agências autônomas: todo o processo de financiamento do setor

continua basicamente fundamentado no pagamento de procedimentos – como fazia o antigo

Inamps. A ação ou serviço que não puder se caracterizar como um ‘procedimento’ não tem como

ser remunerada e, portanto, ninguém quer produzi-los. Um exemplo disso são as ações de educação

para a saúde. Como os procedimentos laboratoriais auxiliares do diagnóstico clínico são

melhores pagos, os laboratórios de saúde pública se restringem a fazer exames de fezes, de urina

e de sangue pedidos pelos clínicos, ao invés dos testes necessários ao controle de doenças e

vigilância sanitária.

Só fico esperando a epidemia de dengue do verão do ano que vem – ou quem sabe a reurbanização

da febre amarela, que alguns já estão vaticinando – quando o Ministro da Saúde vai

poder dizer que não tem nada com isso: ele só tem responsabilidade com a assistência médica; o

controle de doenças é responsabilidade da Apec.

O ‘agencismo’, como remédio prescrito para a Administração Federal da Saúde, constitui, a

meu ver, uma tentativa de reinstituição do Sistema Múltiplo de Saúde.

Brasília, 13 de março de 2002.

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