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Escritos de Saúde Coletiva

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escritos de saúde coletiva

de Nils Christie de que o maior perigo da criminalidade nas sociedades modernas não é o crime em

si mesmo, mas sim o de que a luta contra este acabe por conduzir tais sociedades ao totalitarismo.

O uso de álcool tem características que o torna um pouco diferenciado do uso das drogas

hoje consideradas ilícitas: o uso – e principalmente o abuso – de álcool têm repercussões que vão

além da esfera individual, atingindo a terceiros, e causando danos sociais consideráveis, razão

pela qual, fica, a meu ver, autoriza a intervenção estatal sobre condutas que tenham potencialidade

para atingir bens ou interesses de terceiros.

Não se trata aqui de intervir sobre condutas privadas nem de criminalizá-las, o que – como

vimos – traria mais problemas que soluções. Trata-se de limitar o dano causado pelo uso indevido

de tais substâncias e, em especial, de proteger as crianças e os adolescentes dos estímulos e das

facilidades que nossa cultura oferece para o consumo de álcool.

O uso e o abuso de álcool como problema de saúde pública

Estudos (3) realizados na população adulta no Brasil sugerem uma prevalência de 8 a 10% de

abuso e dependência do álcool.

No período de 1995 a 1997(4), o tratamento apenas da dependência do álcool (CID 303) custou

ao Sistema Único de Saúde cerca de trinta milhões de reais ao ano. Se somarmos os atendimentos

às psicoses alcoólicas, esse valor triplica. Essas causas constituem o primeiro motivo de

internações psiquiátricas e estão entre as cinco primeiras causas de internação hospitalar no País.

No período considerado, o alcoolismo ocupava o quarto lugar entre as doenças mais incapacitantes

e a cirrose alcoólica do fígado foi a sétima causa de óbito na população acima de quinze anos.

Estudo realizado em 1993 pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, encontrou

que de 10 a 15% da força de trabalho empregada naquele estado tem problemas de dependência

de drogas e ou álcool. As decorrências desse fato são que o grupo afetado solicitou três vezes

mais licenças médicas; esteve envolvido em 15 a 30% (segundo o setor industrial) dos acidentes

de trabalho ocorridos no período estudado; foi responsável por 50% do absenteísmo e utilizou

um número oito vezes maior de diárias hospitalares que os demais. As famílias dos trabalhadores

com problemas de dependência química utilizaram três vezes mais serviços de assistência médica

e social que a média.

O consumo de álcool transcende a esfera privada enquanto comportamento, exigindo a intervenção

do Estado – se não para proibi-lo ou criminalizá-lo – para reduzir sua prevalência e os

danos por ele causados a usuários, dependentes e terceiros.

Os elevados custos sociais em vidas ceifadas, em portadores de deficiência que causa e os

decorrentes tanto da elevada proporção de recursos públicos que são necessários para fazer frente

aos danos dele decorrente como das elevadas perdas de produtividade que acarreta o uso

de álcool entre nossa população, obrigam a intervenção do Estado para prevenir o uso abusivo,

reduzir a dependência e reduzir dos danos que decorrem dele.

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