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Escritos de Saúde Coletiva

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coleção de estudos do Doutor Luiz Carlos P. Romero

Diferentemente dos outros países, o programa australiano contou, desde o início, com a aceitação

e o apoio dos mais elevados níveis políticos do país e dos principais partidos políticos.

Da mesma forma, tem prevalecido um espírito de cooperação entre técnicos do governo, clínicos,

pesquisadores e organizações comunitárias, o que propiciou importantes resultados tanto

em termos de saúde pública como em relação à assistência e à pesquisa.

Ao contrário, nos Estados Unidos, os projetos de troca de seringa, iniciados em 1986 por ex-U-

DI, tiveram uma nítida característica de desobediência civil e foram acompanhados de frequentes

embates com a polícia. O governo federal continua veementemente contrário a esses projetos,

mesmo após seu crescimento em número e extensão.

Esses programas encontraram resistência de parte de várias comunidades, do comércio local,

de religiosos e, inclusive, dos serviços que ofereciam tratamento para dependentes.

O status legal de muitos dos projetos ainda em execução nos Estados Unidos permanece

incerto e seu financiamento continua proibido de ser feito com recursos públicos federais.

Um recente estudo patrocinado pela Organização Mundial da Saúde 54 revelou que, enquanto

as características demográficas e os comportamentos de risco eram similares entre os UDI de

Nova York e Sidney, a prevalência de infecção pelo HIV entre UDI era de 48% em Nova York e de

apenas 2% em Sidney. A mais plausível explicação para tão significativa diferença é a profunda

diferença entre as políticas adotadas nos dois países e, em consequência, as estratégias de prevenção

implementadas.

Em verdade, a adoção precoce de políticas e a implementação de programas de redução de

danos têm sido associadas com baixas prevalências de soropositividade ao HIV entre UDI. Ao

contrário, a experiência de vários países onde ocorreram epidemias de HIV entre UDI mostra que

uma década é um tempo mais que suficiente para que o problema atinja dimensões catastróficas.

‘A maior e mais persistente falha em nosso conhecimento tem sido como persuadir autoridades

a adotar programas efetivos de prevenção, em países onde a epidemia segue não controlada’.

Um importante e difícil problema que permanece sem soluções efetivas é o da prevenção da

transmissão do HIV entre prisioneiros. O uso de drogas injetáveis e a prática de sexo homossexual

e de tatuagem têm sido reportados como de muito alta prevalência entre prisioneiros em vários

países (32), da mesma forma que crimes contra a propriedade – estimulados pela necessidade

de dinheiro para manutenção do vício – e a posse ou o tráfico de drogas são responsáveis pela

prisão de UDI.

Essas condições fazem com que não apenas um número importante de UDI sejam mantidos

encarcerados como se criam condições para transmissão do HIV e de hepatites nas prisões. Como

essas populações são muito dinâmicas, seus movimentos dentro e fora dos cárceres representam

um risco considerável de disseminação daquelas doenças dentro e fora das prisões.

54 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Multi-city study of drug injecting and risk of HIV infection. Genebra,

1994.

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