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Escritos de Saúde Coletiva

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escritos de saúde coletiva

Essas alternativas objetivavam a ampliação da compra de serviços ao setor público – em substituição

à quase exclusiva compra ao setor médico empresarial privado; a priorização da atenção

ambulatorial – em substituição ao modelo hospitalocêntrico, excessivamente tecnificado e caro,

então prevalente; e a ampliação de cobertura.

Essas experiências deram início a um longo e difícil processo de reversão de um modelo baseado

na medicina privada e mercantil, a que só tinham acesso os trabalhadores formais, para um

modelo centrado em serviços públicos e de cobertura universal.

A eleição, em 1976, de prefeitos progressistas permitiu, também, que fossem implementadas

experiências exitosas de sistemas municipais de saúde, com base no modelo de extensão de

cobertura por meio de serviços básicos de saúde nos municípios de Montes Claros, Niterói, Campinas

e Londrina. Para tanto, essas novas equipes de gestores municipais que se criaram desenvolveram

ações baseadas no trabalho de agentes comunitários de saúde; implantaram programas

próprios de controle de doenças transmissíveis; testaram a integração docente-assistencial,

na busca de integrar os hospitais de ensino a seus sistemas municipalizados; institucionalizaram

meios para a participação comunitária no planejamento e gestão de serviços e criaram espaços

para a discussão e difusão de suas experiências.

A 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em março de 1986, consagrou a nova concepção

que vinha sendo desenvolvida, promovida e testada pelo Movimento da Reforma Sanitária,

adotando-a como projeto político para a reforma do setor. Ao mesmo tempo, deu visibilidade ao

descontentamento e à preocupação do setor privado com a expansão e o fortalecimento do setor

estatal, manifestados pelos representantes da medicina empresarial que já anteviam a progressiva

estatização do setor.

Com a instalação da Assembleia Nacional Constituinte no ano seguinte, o embate dessas posições

transferiu-se para o âmbito do Parlamento.

Na Constituinte, a posição da chamada “coalizão reformista”, resultado da aliança entre os

movimentos sanitário, sindical e popular e os parlamentares “progressistas” – que defendia as

propostas da 8ª Conferência e da Reforma Sanitária – acabou prevalecendo sobre o forte lobby

orquestrado pelo setor privado dependente do Estado, isto é, prestador de serviços ao setor público,

aliado aos parlamentares dos partidos mais conservadores do centro e da direita – que

defendiam a livre iniciativa da produção de bens e serviços de saúde e o relaxamento dos mecanismos

de regulação estatal, contrários à universalização.

Os representantes do sistema privado de atenção médica supletiva, constituído de setores autônomos

do empresariado médico que não dependia da venda de serviços ao Estado, defendiam,

igualmente, a total autonomia do setor, sem qualquer forma de regulação estatal, e aliaram-se a

esse último grupo.

Pudemos observar, assim, o embate de, basicamente, duas concepções. De um lado, a concepção

social-democrata – que propugnava por um sistema com características de universalização inclusiva

e de caráter nacional, com as ações e serviços oferecidos predominantemente por uma rede

pública com acesso universal e no qual o setor privado teria uma participação complementar. De

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